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Para quem acredita na existência de Deus, há sempre uma luz radiante, ainda que a vida pareça mergulhada em profunda escuridão. Chega um momento que precisamos nos libertar dos grilhões, das amarras e correntes que nos enclausuram num pequeno mundo, sairmos da nossa caverna e irmos de encontro à luz.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Mais merchandising e menos desenvolvimento em Wanderley


Já no início deste ano... Corrijo, no início não porque no início, acontecem as festas carnavalescas e o povo brasileiro está ocupado com os festejos e em Wanderley não poderia ser diferente. Melhor dizer assim: Prestes a terminar o primeiro bimestre do ano em curso o mágico pedaço de chão assistiu à primeira sessão legislativa do ano. Bravo! Bravo!! Bravíssimo!!!

– Estamos de parabéns, está completando um ano, eu disse um ano, não é um dia nem um mês, minha gente. Faz um ano que o nosso município não é acometido por qualquer homicídio! Tudo isso é graças aos nossos policiais que atuam veementemente em nossa comunidade.

– Não, não, não, não, não, não, não mesmo. O fato de não ter acontecido homicídios há mais de um ano não é devido ao trabalho de agentes militares não, pois eles são muito pouco aqui. O motivo deve ser atribuído ao fato de a população wanderleense ser uma família!

– Concordo. Certa vez precisei dos préstimos dos agentes e não fui atendido, onde já se viu uma autoridade parlamentar não ser servida pelo Estado?! Que horror! Onde estamos? Para onde vamos?

Se o ditado popular de que “em terra de cego quem enxerga é rei” estiver correto (lembrando que a sociedade defende que a sabedoria popular nunca erra), estaria faltando o rei na terra do milho e do boi?

Não. Meus conterrâneos enxergam muito bem e, caso tenha algum cidadão especial, no sentido visual, não tenho dúvida, este enxerga ainda melhor, enxerga com os olhos do coração. No mágico pedaço de chão não está faltando rei, pelo contrário, eles estão sobrando. Reis que se digladiam entre si na busca pelo poder majoritário. Reis que depois de ganhar o voto do súdito o ignora até a próxima eleição. Reis que nos seus “ofícios” buscam mais o poderio através de um merchandising barato do que a melhor qualidade de vida para os seus vassalos.

Pensamentos aparvalhados, ideias embasbacadas, falas pacóvias de certos parlamentares estão longe de convencer a sociedade. Meus conterrâneos estão fartos desses discursos de um merchandising barato e promessas mirabolantes que não chegam a lugar nenhum.

Sejamos justos, querer vibrar, enaltecer, vangloriar e comemorar um ano sem homicídio num município é, polifonicamente, dizer que a cidade é tão violenta que um ano sem nenhum homicídio é motivo de comemoração. É uma omissão à morte do garotinho wanderleense que tão jovem morreu de overdose de drogas. O que seria isso senão um homicídio social wanderleense?! Que horror! Onde estamos? Para onde vamos? (Agora sim os termos supracitados foram empregados corretamente).

– Meu diagnóstico: Wanderley continua em mau caminho...

Indivíduos ainda reclamaram da oportuna fala do médico que atendeu a criança em outra cidade, já que o mágico pedaço de chão continua vivendo a idade dos primórdios científicos, na tangente da medicina (e noutro monte de tangentes também).

Sejamos mais justos ainda, atribuir o motivo de não ter acontecido homicídio durante todo um ano ao fato de a população wanderleense ser uma família aí já é fazer da seriedade uma tremenda brincadeira de mau gosto! Não é?

Convite: Vamos fazer um pequeno histórico dos casos em que nossos irmãos atentaram contra o outro e resultou em morte? (Agora eu dei uma pequena vacilada, não foi?). Foi de propósito. Há muito eu sei que a grande maioria dos meus conterrâneos é atenta e possuem uma memória perfeita, ao ponto de não precisarmos citar os inúmeros homicídios ocorridos nessa família da terra do milho e do boi. Mas, para muitas autoridades, até que elas não sejam atingidas, tudo certo, “essas briguinhas acontecem mesmo até nas melhores famílias”. Não viu dias depois da comemoração de “um ano sem homicídios” um irmão esfaquear o outro, arrancando-lhe a vida, em plena rua do mágico pedaço de chão?

Então quer dizer que a única fala inteligente foi a terceira? Aquela que, apesar de denunciar o despreparo do Estado para com a segurança, concordou com a segunda? Sejamos francos!
– Encerra-se neste momento a primeira sessão legislativa deste município.

Gilson Vasco

Escritor