Bem-vindo (a)

Para quem acredita na existência de Deus, há sempre uma luz radiante, ainda que a vida pareça mergulhada em profunda escuridão. Chega um momento que precisamos nos libertar dos grilhões, das amarras e correntes que nos enclausuram num pequeno mundo, sairmos da nossa caverna e irmos de encontro à luz.

domingo, 20 de novembro de 2016

Filhos órfãos de Goiânia - Capítulo III - Final




No primeiro capítulo desta série de artigos que relatam os descasos do poder público para com as crianças e adolescentes publicado no dia 1º de março do ano em curso, na página quatro do caderno Opinião Pública deste jornal relatamos sobre o estado de abandono em que se encontram milhares das nossas crianças e adolescentes goianienses.  Apresentamos diversos códigos de leis de amparo legal às crianças e aos adolescentes e mesclamos o Estatuto da Criança e do Adolescente, instituído pela Lei 8.069, no dia 13 de julho de 1990, documento oficial que substituiu o Código de Menores, de 1927 e podemos perceber que apesar de tudo, grande parte dessa classe juvenil ainda se encontra desamparada pelo poder público. Já no segundo capítulo, publicado oito dias após o primeiro, isto é, 8 de março, coincidentemente, também na página quatro do caderno Opinião Pública do Diário da Manhã mencionamos os novos bairros, construidos nos últimos anos, nas regiões periféricas da metrópole, que abrigam milhares de famílias de baixa renda e para exemplificar tamanho descaso citamos os residencias Jardins do Cerrado & Mundo Novo, bairro da região oeste, criado para ser referência nacional e maior complexo habitacional da América Latina, em Goiânia, e, no entanto, sua população de quase 25 mil moradores pena com a falta de estrutura básica para o cidadão.

Neste capítulo final, completando e encerrando a tríade de matérias voltadas para a situação penosa de milhares de crianças e adolescentes, veremos que tudo o que falamos nos dois primeiros artigos, realmente não foi simplesmente por falar, verdade é que tudo tem fundamento. Aliás, essa falta de compromisso na tangente da proteção às crianças e aos adolescentes que as transformam em vítimas frágeis perante a sociedade não é um desacordo meramente do poder público não! Pais, professores, vizinhos, médicos... Muitos são omissos. Por falar nisso, quem não se lembra daquela matéria “Silêncio conivente”, publicada domingo, 17 de março, neste mesmo jornal, que relata que “medo de represália leva profissionais de saúde a deixar de denunciar casos suspeitos de violência contra crianças” e adolescentes?

A matéria diz que “passados mais de 20 anos da instituição do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Brasil ainda não cumpre integralmente a determinação para que profissionais de saúde notifiquem casos suspeitos ou confirmados de violência contra crianças e adolescentes”. E que “estudos científicos de universidades brasileiras apontam que, em média, seis em cada dez profissionais que identificam violações durante atendimento se omitem e não encaminham a denúncia aos órgãos competentes, contrariando o que está previsto na lei” e temendo represálias posteriores dos agressores.

Em muitas instituições de ensino também acontecem casos semelhantes, onde crianças são alvos de maus-tratos e muitas instituições cerram os olhos para o fato, como se aquilo não fosse algo ruim ou preocupante. Fiquei com muito nojo de um caso em que um aluno estava supostamente sendo usado como brinquedinho para um suposto pedófilo que vagava nas proximidades da escola em que a criança de nove anos estudava e a direção da instituição mesmo a par da situação ignorou o fato, já que a família do garotinho resolveu transferir a suposta vítima para outra escola em outro bairro.

Nas proximidades de onde eu moro nenhum veículo estranho passa despercebido, não estou dizendo que as crianças e adolescentes vizinhos estão isentos de olhares maldosos, mas são instruídos a desconfiar de tudo e de todos. Claro, não as incentivamos a viverem permanentemente enclausuradas pelo medo, mas sim, serem cautelosas e sempre que se julgarem observadas contatem um adulto imediatamente.

Não há desculpas, tampouco temor, crianças, adolescentes e idosos não estão nessas condições para serem agredidos, e sim, protegidos todo o tempo, não importam as circunstâncias, e, se existe uma lei ela deve ser cumprida à risca, senão não há explicação para a sua existência. Temos certeza e esperança que muito em breve o poder público e a sociedade em geral comecem a olhar de um ângulo melhor e passem a serem mais atuantes para que nossas crianças e adolescentes sejam mais lembradas, respeitadas e acolhidas, pois somente assim se tornarão cidadãos dignos e cívicos, conhecedores e praticantes da ética e da moral.



Gilson Vasco

Filhos órfãos de Goiânia - Capítulo II


O inciso V do artigo 53, do Estatuto da Criança e do Adolescente que veio para assegurar, na prática, o acesso à escola pública e gratuita próxima à moradia das crianças e dos adolescentes não passa de uma teoria. Pensa, por exemplo, nos novos bairros construidos nas regiões periféricas da metrópole, nos últimos anos, para abrigar milhares de famílias de baixa renda... Sabem como anda a situação da classe infanto-juvenil dos residencias Orlando de Morais, Santa Fé, Jardins do Cerrado &Mundo Novo (o maior entre eles) e de tantos outros residenciais? Com problemas parecidos com os dos demais empreendimentos habitacionais, os residencias Jardins do Cerrado & Mundo Novo, bairro criado para ser referência nacional e maior complexo habitacional da América Latina, em Goiânia paga um alto preço motivado supostamente por interesses políticos partidários. Como se não bastasse o fato de o bairro ter sido entregue aos moradores praticamente sem nenhuma infraestrutura (ruas sem asfalto, creche e escola municipais que não atendem toda a demanda, uma linha de ônibus ineficiente e inexistência de escola estadual), passados quase quatro anos de existência do bairro com todas as casas construídas já ocupadas, os residenciais, localizado na região oeste da Capital e atualmente comportando quase 25 mil moradores de baixa renda vivem um dilema: moradores não contam com os direitos básicos garantidos pela Constituição Federal! Falta asfalto, rede de esgoto, segurança etc., mas, nos últimos dois meses, o maior drama vivido por centenas de mães surpreendidas com a triste notícia, sem aviso prévio, de que seus filhos não teriam mais transporte escolar para a rede estadual de ensino.

Desde a fundação do bairro em 2009, até o ano passado, cerca de desessete ônibus escolares transportavam alunos para o Colégio Estadual Aécio Oliveira de Andrade, no setor Urias Magalhães, Colégio Estadual Edmundo Pinheiro, no Bairro São Francisco, e, a partir do início do ano passado, o Colégio Estadual Marechal Rondon, na Vila Irany, passaram a receber os alunos moradores dos residenciais, mas as escolas municipais e colégios estaduais de bairros como Criméia Oeste, Fama, Conjunto Vera Cruz, Recanto do Bosque, Finsocial e até a cidade de Trindade acolhem os estudantes dos residenciais Jardins do Cerrado & Mundo Novo que, com muito sacrifício, usam o transporte convencional, quando o essencial seria a construção de equipamentos educacionais municipais e estaduais dentro do nosso bairro que atendesse toda a demanda estudantil para livrá-los do perigo que correm mediante o tráfego pelas GOs.

A escola estadual mais próxima se localiza no Conjunto Vera Cruz, a cerca de 6 quilômetros e a situação é tão problemática que, depois da triste notícia de que o Estado não mais iria repassar a verba para custear o trasnporte escolar, nos últimos dois meses moradores já se reuniram diversas vezes na tentativa de conseguir uma simples audiência pública com o Secretário Estadual da Educação e não  obtiveram êxito. Manifestos foram feitos com apoio da imprensa, porém, nada foi resolvido, sem contar que desde início de 2010, moradores, através de ofícios vêm pedindo a construção da escola estadual, haja vista que o bairro já conta com duas áreas públicas exclusivas para a construção da instituição estadual de ensino.

Com a retirada do transporte escolar para as escolas estadual Aécio Oliveira de Andrade, Edmundo Pinheiro e Marechal Rondon, 900 alunos, em média, perderam suas vagas, ou seja, foram literalmente expulsos das instituições estaduais, muitos, simplesmente por serem alunos do Ensino Fundamental que não é obrigação prioritária do Estado e sim do Município. Não resta dúvida que o município também foi omisso, por não construir escolas que atendam os alunos das últimas séries do Ensino Fundamental e preferem gastar elevadas somas com o transporte escolar, mas pior que isso agiu a Secretaria Estadual da Educação que, além de não ter construído nenhuma escola estadual no bairro que já caminha para o seu quarto ano de existência, não tem se responsabilizado pelo transporte escolar dos alunos da rede estadual. Com isso, o número de alunos que passaram a usar o transporte convencional para irem às escolas acabou superlotando as linhas do transporte coletivo que atendem o bairro.

O que aconteceu com o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente em Goiânia? O que aconteceu com nossos direitos constitucionais? É impressão minha ou realmente há governantes que não estão cumprindo com seus deveres? Isso porque eu nem cheguei a falar da falta de esporte, lazer e outros programas de atendimento às crianças e aos adolescentes goianienses.


Gilson Vasco

Filhos órfãos de Goiânia - Capítulo I




Dito e feito. Como eu havia prometido, em artigo anterior, que falaria sobre o estado de abandono em que se encontram milhares das nossas crianças e adolescentes goianienses cumpro aqui parte da proposta.

Em pleno século XXI e mesmo com diversos códigos de leis de amparo legal às crianças e aos adolescentes como Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, lei fundamental e suprema do Brasil; Estatuto da Criança e do Adolescente, instituído pela Lei 8.069, no dia 13 de julho de 1990, documento oficial que substituiu o Código de Menores, de 1927 e suas poucas ratificações; Convenção Internacional dos Direitos da Criança, de 20 de novembro de 1989, tratado internacional, o qual o Brasil é signatário; Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 20 de dezembro de 1996 queapesar de ser criada para definir e regularizartodo o sistema de educação brasileiro, de certo modo, volta-se,prioritariamente,às crianças e aos adolescentes, por serem classesregulares em idade escolar, grande parte dessa classe juvenil ainda se encontra desamparada pelo poder público.

Se este fosse um livro, poderíamos mergulhar passo a passo em cada um desses documentos de amparo legal às crianças e aos adolescentes, mas por se tratar somente de um pequeno artigo de duas ou três partes, no máximo, temporariamente, ignoremos, pois, os demais códigos de proteção e frisaremos apenas em uma pequena parte do Estatuto da Criança e do Adolescente, precisamente em seu artigo 53, docapítulo II, o qual trata exclusivamente dodireito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer. Pois bem, reza o artigo 53 que “a criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;II - direito de ser respeitado por seus educadores;III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores;IV - direito de organização e participação em entidades estudantis; V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência”.

Melhor, vamos fechar ainda mais o leque em relação aos direitos da criança e do adolescente.Para tanto, peguemos unicamente o inciso V do artigo 53, que diz que o Estado deve garantir a criança e ao adolescente “acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência”. Diante dessa formalidade, é bom que se pergunte: O Estado tem cumprido o Estatuto da Criança e do Adolescente? As crianças e os adolescentes vêm realmente sendo amparados pelo Estatudo da Criança e do Adolescente ou o documento oficial é simplesmente mais um conjunto de leis como tantos outros feitos pelos parlamentares brasileiros apenas como enfeitesdemonstrativos?

Todos os dias os canais de comunicação em massa divulgam milhares de casos de crianças e adolescentes pelo Brasil que são alvos de maus-tratos. E para sabermos disso nem precisava a revelação dos fatos pela mídia, vemos isso a olho nu todo o tempo! Salvas as excessões, o poder público brasileiro é omisso em relação ao amparo de nossas crianças e adolescentes. Mas não vamos viajar pelo Brasil não, tampouco pelo Estado goiano, ficaremos aqui mesmo em Goiânia, pois o descaso também com a classe infanto e juvenil acontece muito por aqui.

Caso alguém tenha alguma dúvida em relação ao não cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente basta começar a observar o estado de abandono em que se encontram milhares das nossas crianças e adolescentes goianienses. Vejam, por exemplo, a peça pregada por muitas autoridades governamentais às milhares de crianças e aos milhares de adolescentesgoianienses de famílias de baixa renda, deixando-os num cenário vergonhoso, do ponto de vista social, moral e ético.


Gilson Vasco

Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido - Parte (XIV)




Nesta penúltima parte, quando estamos quase chegando ao fim desta viagem pelos Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido vamos iniciar esta etapa um pouco diferente de todas as demais, falando, claro, do meio ambiente. Não sou geógrafo, mas me considero um ambientalista amador, de modo que posso dizer que quando falamos em meio ambiente surgem em nossas cabeças variadas propostas de definição referente ao termo circunscrito. Assim, cada indivíduo conceitua meio ambiente de acordo com o seu conhecimento, a sua experiência, cultura, etc. Alguns o chamam de lugar, outros denominam de espaço e outros mais definem como sendo território. Dependendo do ponto ótico todas as expressões impregnadas são aceitas, porém, ecologicamente falando meio ambiente é o conjunto de condições e influências naturais que cercam um ser vivo ou uma comunidade e que agem sobre ele. Do ponto de vista geográfico território é uma área politicamente delimitada, em que o Estado exerce sua jurisdição dentro de suas fronteiras; lugar é um ponto referencial e espaço é o meio natural transformado pelo homem. Dessa forma, num dado espaço pode existir diversos lugares. Sendo assim, o meio ambiente ou meio natural vai sendo transformado em espaço pelo homem. Essa transformação ocorre de forma ecologicamente correta ou dissolutamente. Quando o homem manipula o meio ambiente de maneira responsável a natureza mantém-se em equilíbrio, do contrário os impactos são catastróficos e os verdadeiros resultados afetam todas as espécies terrestres, seja animal ou vegetal etc.. O espaço ocupado pelos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo não é diferente, embora não seja ainda um território industrializado, fator contribuinte com a destruição da camada de ozônio, a minicidade vem sofrendo com a falta de cuidados com o meio, seja por parte do poder púbico, seja pela própria comunidade.

Tanto a coleta seletiva, quanto a coleta comum vem sendo realizadas com frequência no bairro, porém o mato alto, a falta de constante limpeza na minicidade, por parte do poder público tem contribuído para o agravamento da situação ambiental. Por outro lado, moradores também desconhecem ou faz desconhecer o zelo pelo local e se acham no direito de descartar todos os tipos de materiais nas áreas públicas, ruas e calçadas. Sofás velhos, televisores quebrados e muitos outros móveis tidos como sem serventias são lançados nas ruas a céu aberto. Outrora, quando se realizam os serviços de roçagem pela prefeitura, os moradores resolvem colocar fogo nos resíduos.

Um córrego que passa nas imediações da minicidade poderia receber mais cuidados, sendo transformado num bosque para oferecer melhor qualidade de vida aos moradores, mas ao que parece isso ainda está muito longe de acontecer. Mas, pior que tudo isso, é a falta de saneamento básico, principalmente na tangente da rede de esgoto, o bairro ainda se serve de fossas sépticas, quando já deveria contar com eficiente rede de esgoto e receber tratamento adequado.

A parte boa é que o bairro que foi inaugurado há seis anos sem nenhuma árvore para fazer sombra, liberar oxigênio e consumir o gás carbônico, hoje já está visivelmente bonito e arborizado, de modo a garantir bons ares à população.

Gilson Vasco


Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido - Parte (XIII)




Nesta parte XIII da série Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido vamos reforçar ainda mais como anda a garantia ou a falta do cumprimento dos direitos das crianças e dos adolescentes moradores na minicidade, construída numa das regiões periféricas da metrópole, para abrigar milhares de famílias de baixa renda, já que como todos sabem, o artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) formata que: “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” a todas as crianças e adolescentes sem distinção. Sabem como anda a situação da classe infanto-juvenil nos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, bairros criados para ser referência nacional e maior complexo habitacional da América Latina? Com os mesmos problemas que os demais empreendimentos erguidos nas periferias do gigante convivem! Crianças e adolescentes da minicidade pagam um alto preço por morarem num bairro afastado de todos e de tudo, pois como se não bastasse o fato de o bairro ter sido entregue aos moradores praticamente sem nenhuma infraestrutura, com ruas sem asfalto, creche e escolas municipais que não atendem toda a demanda, uma linha de ônibus ineficiente e inexistência de escola estadual, passados quase seis anos de existência do bairro com todas as casas construídas já ocupadas, os residenciais, localizado na região oeste da Capital que atualmente comporta quase 30 mil moradores de baixa renda ainda não possuem, sequer, um equipamento público destinado à prática esportiva, ao lazer etc. Na verdade, os moradores não contam com os direitos básicos garantidos pela Constituição Federal! Como já tivemos a oportunidade de observar falta rede de esgoto, segurança, escola estadual etc. e, por sorte, depois de longa espera, o asfalto começou a chegar.

O que acontece com a obrigatoriedade do cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente nos Jardins do Cerrado, em Goiânia e no Brasil inteiro? O que acontecem com os direitos constitucionais do povo?

É inadmissível o descaso do poder público para com as crianças e adolescentes da minicidade. Chega a ser vergonhoso o estado de abandono em que se encontram milhares de crianças e adolescentes.  Não se podem construir bairros, principalmente em regiões periféricas da metrópole para abrigar milhares de famílias de baixa renda e deixar crianças, adolescentes, jovens e idosos esquecidos, em altíssimo risco de vulnerabilidade social, a mercê da própria sorte. Sim, é isso o que está acontecendo também com os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, criados para ser referência nacional e maior complexo habitacional da América Latina, e, lamentavelmente, sua população pena com a falta de estrutura básica para o cidadão.

É simplesmente ridícula, a situação penosa de milhares de crianças e adolescentes, que, mais dias, menos dias, se transformam em vítimas frágeis perante a sociedade! Exclusivamente para este fatídico caso podem dizer categoricamente que, a culpa não é meramente do poder público não, ora, deve ser repartida com uma parcela da sociedade e com parte dos próprios responsáveis familiares que, muitas vezes, lançam para outrem a tarefa pelo zelo com a juventude. Muitos são omissos.
Esperamos que muito em breve o poder público, pais e a sociedade em geral comecem a olhar de um ângulo melhor e passem a serem mais atuantes para que nossas crianças e adolescentes sejam mais lembradas, respeitadas e acolhidas, pois somente assim se tornarão cidadãos dignos e cívicos, conhecedores e praticantes da ética e da moral.

As crianças e adolescentes e comunidade em geral dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo e de todo o mundo não merecem ser alvo da especulação político-partidária. Consigo enxergar a questão do abandono pueril, juvenil, dos idosos e dos deficientes na minicidade como é visto a seca no nordeste do País: existe, sabem que existe, raramente tomam medidas paliativas, mas não se resolve, pois resolver problema para a população mais carente significa redução no número de votos para certos políticos.

Na nossa penúltima parte, XIV, abordaremos a questão do meio ambiente nos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, já que estamos vivendo a era da sustentabilidade. Veremos com maiores detalhes a questão do saneamento básico e da preservação do meio ambiente. Aguardem!
  
Gilson Vasco



Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido - Parte (XII)




Nesta parte XII da série Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido vamos conhecer um pouco do que venha a ser o Projeto Meninos do Cerrado, uma instituição que surgiu em 2010, dentro da Associação dos Moradores dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo com o objetivo principal de assistir crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, tentando evitar que eles acabem mergulhados no mundo do crime, sugados pelo ralo da exclusão social e ejetados para o submundo que, a todo o momento, os banem da existência.

Para reforçar a extrema necessidade da criação do projeto é bom relembrarmos a origem dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, popularmente chamado de “Jardins do Cerrado” ou “Minicidade”, nomenclaturas que já vimos adotando e vamos continuar usando a partir deste momento também.

Sabe-se que por volta de 2009 surgiu um programa governamental com o objetivo de reduzir o déficit habitacional brasileiro, tido como um dos problemas mais crônicos do Brasil. O intento do governo era atingir, em tempo recorde, a marca de dois milhões de casas e apartamentos populares construídos. Não há como negar, em menos de uma década, o programa atendeu milhares de famílias que não tinha sua casa própria, porém, o programa que ao invés de ter transformado o sonho da casa própria em realidade para muitas famílias brasileiras, se transformou num cruel pesadelo, impossibilitando as famílias contempladas usufruir de sua moradia dignamente. Lamentavelmente, o programa se consolidou de modo forçado, isto é, mais publicidades e menos desenvolvimento infraestrutural. O programa nada mais é que um reforço do poder público para a concretização do modelo periférico de urbanização, por meio da edificação de extensos conjuntos habitacionais nas regiões periféricas das metrópoles sem oferecer a infraestrutura básica. Lamentavelmente, os idealizadores do programa fingem não saber que, afastados dos centros urbanos, os moradores desses complexos habitacionais espalhados por todo o Brasil são obrigados a conviver com a insuficiência ou inexistência de transporte público de qualidade, equipamento escolar, posto de saúde, área de lazer e saneamento básico, refletindo diretamente no sofrer social. O desígnio de favorecer famílias carentes na obtenção de sua moradia própria é um cumprimento constitucional, mas a edificação de complexos habitacionais em espaços muito distantes da urbe é uma ação excludente e preconceituosa em relação às classes de pouco ou nenhum poder aquisitivo. Vítima desse modelo excludente são também os Jardins do Cerrado, complexo habitacional localizado na região oeste da Capital goiana que possui ao todo quase 3 mil casas e aproximadamente 2 mil apartamentos habitados, totalizando um aglomerado de cerca de 30 mil moradores, formando uma minicidade, uma cidade dentro de um gigante metropolitano.  

É nos Jardins do Cerrado, entregue ao progresso incerto que também milhares de seres humanos carentes e necessitados vivem estertorados. Fazem parte dessa gente crianças e adolescentes, a perder de vista, muitas das quais convivem com o descaso, com o abandono institucional, com a violência, com a fome e com as mais diversas formas de exploração do dia a dia.
O projeto não pretende, em hipótese alguma, ser taxado de “o salvador dos Meninos do Cerrado”, mas, temos tentado o máximo possível, amenizar o sofrimento dos pequenos. E fazemos isso sem doar muito de nós, pois, como a nuvem singela que ao estilar partículas de alvura alimentam oceanos, são com pequenos gestos sinceros que fazemos a alegria dos Meninos do Cerrado. Eles são dois, quatro, sete, dezenas, centenas, milhares, multidões... São, às vezes, inocentes, carentes, temerosos, brincalhões, amigáveis, sofridos, queridos, odiados... Muitos, órfãos de pais, paz, pão, educação, cultura, aconchego, afeto e ternura.

Sejam através da prática esportiva, em campos de chão batido, festas comemorativas, conduzindo-os às maratonas fora da minicidade, visitas às instituições, teatros, cinemas, museus, planetário, clubes de lazer e etc. sejam com pequenos gestos, temos nos aventurados a cumprir a nossa função de partilha na missão de sermos seres humanos.

De todos os incentivos dados às crianças assistidas pelo Projeto Meninos do Cerrado, o Circuito Caixa de Maratoninha, maior circuito de corrida infantil do País, evento esportivo que cresce a cada dia, promovido anualmente pela Caixa Econômica Federal que acontece nas principais cidades do Brasil e em Goiânia, penso ser o que mais tem chamado a atenção da garotada.

Todos os anos, desde 2010, meninos e meninas dos Jardins do Cerrado marcam presença no Circuito Caixa de Maratoninha, incentivados pelo Projeto Meninos do Cerrado.

As crianças e os adolescentes, principalmente provindos de comunidades carentes, devem ser o principal alvo das políticas públicas e de projetos que se propõem auxiliá-los. É necessário que continuemos pensando num futuro melhor para eles, pois alcançarão se começarmos a investir desde agora. Há crianças carentes no bairro que, às vezes, se aventuram a atravessar a Capital para fazer algum tipo de curso que devia ser oferecido dentro do bairro e manter-se ocupado, mas outras, não tendo nada para fazer no período pós-escolar, ficam camuflados em suas casas ou perambulando pelas ruas e isso é muito ruim! O bairro não possui, sequer, uma escolinha de futebol e foi justamente para tentar amenizar um pouco esse problema que o Projeto Meninos do Cerrado passou a colaborar com alguns voluntários que se arriscam, mesmo sem nenhuma condição financeira, a dar aulas de futebol para as crianças e adolescentes da minicidade.

Nos Jardins do Cerrado, vez por outra, ainda se instalam circos e os Meninos do Cerrado ficam na expectativa até a hora dos espetáculos. Não raro, quando há circo instalado no bairro, o Projeto Meninos do Cerrado cosegue levar muitas crianças e adolescentes para se divertirem com as apresentações circenses.

Dentro das possíveis possibilidades, o Projeto Meninos do Cerrado também colabora com os trabalhos voluntários da academia Dojo Magno Kan, pensada e administrada pelo professor faixa-preta em caratê, Divino Magno, que, há muito tempo vem trabalhando com crianças carentes das regiões periféricas da Grande Goiânia e, após, prestar grandes trabalhos voluntários para crianças em situação de vulnerabilidade social em outros bairros, há cerca de três anos, percebendo o contingente de crianças e adolescentes sem nenhuma atividade esportiva, cultural ou artística, o mestre em caratê começou a atender crianças e adolescentes dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo. O projeto Meninos do Cerrado apoia os trabalhos da academia angariando recursos para o custeio de algumas inscrições em campeonatos ou mesmo com doações de materiais usados nas aulas e treinos, pois o projeto também acredita que o caratê é também uma forma de as crianças e adolescentes dos Jardins do Cerrado terem a mesma oportunidade que outras de outras regiões. Precisamos olhar o caratê como uma arte que os tornem mais capazes.

O Projeto Meninos do Cerrado tem proporcionado a várias crianças dos Jardins do Cerrado a visitar o Planetário. Cada vez que um grupo de Meninos do Cerrado visita o local para uma sessão “intergaláctica” é uma festa de animação. Manter os Meninos do Cerrado em contato direto com a cultura, obtendo cada vez mais conhecimento também é um dos objetos do Projeto.

Desde o início da fundação do bairro e da criação do Projeto Meninos do Cerrado é costume, todo ano, um parque de diversão se instalar nas imediações da principal avenida que corta os Jardins do Cerrado ao meio. Vez por outra, os idealizadores do Projeto Meninos do Cerrado conseguem fechar parceria para que os dirigentes do parque possam atender os Meninos do Cerrado por um preço abaixo do custo normal, ou mesmo de modo gratuito.

O Projeto Meninos do Cerrado tem realizado passeios em alguns clubes de Goiânia com intuito de levar alguns Meninos do Cerrado para esse momento prazeroso, tomando banhos nas piscinas, tomando um sol e se descontraindo um pouco. 

Os Meninos do Cerrado são seres comuns, como eles, outros são encontrados em todos os cantos do mundo. Geralmente de famílias carentes que dependem da ajuda de outros para sobreviverem. Muitos são vítimas do desajuste social, outros, apesar de serem de famílias carentes conseguem levar uma vida mais ou menos confortável, mas uma coisa eles tem em comum: vontade de crescer e mudar o futuro da sua linhagem. São crianças, pré-adolescentes e adolescentes, muitos dos quais, encontram-se em situação de vulnerabilidade social e que, nessas condições, estão expostos a diversos riscos como: violência física, psicológica e sexual; uso e tráfico de drogas lícitas e ilícitas; exploração como mão de obra infanto-juvenil; má nutrição e diversas doenças. Esses meninos, muitas vezes pequenos, sobrevivem em quase total ruptura com as necessidades básicas e caso políticas públicas voltadas para o resgate e inserção social não forem imediatamente desenvolvidas, muitos deles poderão ter seus futuros drasticamente comprometidos, podem continuar sendo vítimas das mais diversas e cruéis formas de exploração.

Gilson Vasco



Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido - Parte (XI)


Na parte VIII desta série Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido podemos ver que a Associação dos Moradores tem desempenhado excelente papel para com sua comunidade, agora veremos com maiores detalhes alguns dos inúmeros trabalhos que o Grupo Rosendo Conceição vem dando continuidade.

Dentre muitos outros eventos de criação do grupo um que também virou tradição nos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, através da Associação dos Moradores, até então, custeado por Rosendo Conceição e Projeto Meninos do Cerrado é a festa em comemoração ao Dia das Crianças que costuma atrair quase duas mil crianças. A festa dura em média quatro horas e durante todo o tempo as crianças podem brincar em cama elástica, pula-pula, piscina de bolinha, brincar em parque de diversão alugado para a meninada e, muitas vezes, até assistir à peças teatrais. As crianças ainda podem saborear pipoca, algodão-doce, bala-doce, laranjinha e muito pirulito. A tradicional festa acontece desde a fundação da Associação dos Moradores e é graças ao grupo de voluntários que tudo ocorre bem. O evento tem dado tão certo que estimula parte da imprensa a deslocar para o bairro para mostrar a atração.

A festa natalina de distribuição de brinquedos para todas as crianças dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, promovida todos os anos pelo Grupo Rosendo Conceição e Projeto Meninos do Cerrado gera expectativa, euforia, surpresas e muitas alegrias. O essencial dessa festa, depois da alegria da criançada são três atrações; a entrega de milhares de brinquedos, de modo que nenhuma criança dos residenciais, presente no evento, fique sem receber brinquedos, como de fato não fica; o recorde de público, como na primeira festa natalina de distribuição de brinquedos em que a Polícia Militar e a Imprensa estimaram um público de quase 6.000 mil pessoas, a maioria crianças, pré-adolescentes e adolescentes, mas os jovens e até o pessoal da terceira idade, costumam ir prestigiar o evento e darem gargalhadas na hora das atrações humorísticas de artistas convidados que animam parte da festa; mas a maior surpresa acontece em meio à festa, quando os moradores são surpreendidos com a chegada de um helicóptero trazendo o bom velhinho, Papai Noel.

Outro evento que Rosendo Conceição e Projeto Meninos do Cerrado  costuma fazer através de parceria com a Organização das Voluntárias de Goiás (OVG) é proporcionar às crianças carentes dos residenciais a oportunidade de passar o Natal ganhando brinquedos de excelente qualidade. Para se ter uma ideia do tamanho do evento, no primeiro ano de participação, isto é, em dezembro de 2010, o evento chamado Show de Natal ocorreu no Estádio Serra Dourada e nenhuma das quase 800 crianças dos Jardins do Cerrado e Mundo Novo que foram voltaram para casa sem o seu brinquedo. Já na segunda participação, em 2011, que ocorreu também em dezembro, o Grupo Rosendo Conceição e Projeto Meninos do Cerrado conseguiram transportar 1.000 crianças dos Jardins do Cerrado e Mundo Novo para o local da entrega de brinquedos, através da OVG. Daí em diante cada vez mais crianças eram atendidas, de modo que em 2012, o grupo conseguiu levar para a Praça Cívica, 1. 200 crianças dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo. Em 22 de dezembro de 2013, 15 ônibus lotados de crianças saíram rumo à Praça Cívica para assistirem aos shows e pegar seu presente de Natal. Quebrando seu próprio recorde o grupo e o projeto levaram mais de 1. 400 crianças dos Jardins do Cerrado e Mundo Novo para o evento da entrega de brinquedos. Agora, bem mais recente, em 2014, 17 ônibus saíram abarrotados do bairro, sob forte chuva. Estima-se que 1.500 crianças foram atendidas. Desde o início do evento até o ano passado, não houve nenhum imprevisto, graças à colaboração das mães das crianças e o preparo da equipe de voluntários do Grupo Rosendo Conceição e Projeto Meninos do Cerrado. A criançada volta feliz e satisfeita com a ida.

  Gilson Vasco

Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido - Parte (X)


Na nossa parte anterior da série Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido, foi abordada a questão do transporte coletivo, matéria que também repercutiu muito no bairro, agora, nesta parte X vamos abordar a questão relacionada à pavimentação, ou a falta dela e, desde já, confesso que se perguntado sobre qual tem sido a maior luta dos moradores dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, talvez, não saibamos responder se a da escola, a do transporte de passageiro ou a do tão esperado asfalto.

Ora, como todos sabem, apesar de inúmeras cobranças por parte das lideranças para o poder público, o bairro ainda não conta com o asfalto e a poeira, se na seca, ou a lama, no período chuvoso continua tomando conta das ruas. As erosões, às vezes, cobrem adultos e oferece riscos às crianças, aliás, às milhares de crianças. Pensa num lugar que tem criança!

Pois bem, daqui para frente, veremos como se deu a questão do asfalto no bairro: O asfalto foi lançado no bairro há cerca de quatro anos, precisamente numa manhã de sábado, 28 de maio de 2011, e, logo após o início da terraplanagem sofreu paralisação, sem nenhuma explicação aos moradores todas as máquinas e trabalhadores foram retirados do bairro de uma hora para a outra. Em 19 de setembro de 2012, isto é, pouco mais de um ano após a paralisação da pavimentação as máquinas e funcionários que anteriormente foram retirados voltaram para continuarem as obras no bairro, ou seja, depois de mais de ano paralisadas e fora do setor, máquinas da empresa que venceu a licitação pública para a pavimentação do bairro, voltaram para os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo. Com a volta, as obras foram reiniciadas pela etapa II do bairro, já que, segundo os engenheiros, os trabalhos seriam feitos da parte baixa para a parte alta do bairro e, também, motivado pelo fato de as galerias pluviais na etapa II já estarem prontas, os trabalhos seriam, segundo informações da empresa, realizados em ritmo acelerado e, ainda de acordo com a empresa, assim que os trabalhos de pavimentação da etapa II fossem concluídos, iniciariam os trabalhos das demais etapas dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, porém, nada disso aconteceu, de modo que, até a presente data, a etapa II não foi concluída, já que após ter colocada a primeira camada asfáltica, não se sabe o motivo, as máquinas foram retiradas do bairro, ficando somente poeira, lama e transtorno para os moradores.

Daí para cá sabe o que houve? Por mais que possa parecer incrível, foi fato, depois de incansáveis cobranças, lutas e protestos, as máquinas retornaram para dá continuidade ao nosso asfalto! Acreditem!Mas como diz o ditado popular que “gato escaldado tem medo de água fria”, apesar da volta das máquinas para o bairro, os moradores não ficaram entusiasmados não. Não foi notado adrenalina de comemoração desse retorno, pois com tanto vaivém das máquinas, já não havia nenhuma certeza quanto à conclusão do asfalto. Dito e feito: novamente todas as máquinas foram retiradas dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mudo Novo sem concluir as obras!

Agora, já bem amais recente, no início de maio do ano em curso, as máquinas e funcionários da Secretaria Municipal de Obras (SEMOB), entraram no bairro e trabalham a todo vapor. Os motores das máquinas começam a roncar logo cedo e só param após as vinte horas. Dessa vez, tudo indica que a tão sonhada pavimentação chega, de verdade, aos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo.

Gilson Vasco

Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido - Parte (IX)


A história do transporte de passageiros na minicidade também é um fato peculiar. Quando o bairro recebeu seus primeiros moradores em outubro de 2009, uma única linha de ônibus, a linha 338, (Jardins do Cerrado I - Terminal Conjunto Vera Cruz) servia precariamente a população, as viagens tinham intervalos de mais de uma hora e o percurso era somente até o Terminal do Conjunto Vera Cruz, isto é, por muito tempo, até mesmo nos horários de picos, os ônibus velhos e sem nenhum conforto despejavam todos os passageiros dos residenciais no Terminal Vera Cruz! De lá, quem quisesse chegar ao centro de Goiânia ou seguir para outro destino era obrigado a esperar outros ônibus que já vinham lotados de outros bairros. Os passageiros dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, além de não ter um ônibus exclusivo para ir ao centro da cidade, sofriam preconceitos dentro das outras conduções lotadas. Sofrimento maior era sentido pelos cadeirantes e idosos, com tantos embarques e desembarques desnecessários.

Para ser mais preciso, antes da criação da Associação dos Moradores, o passageiro esperava, em média, uma hora e trinta e cinco minutos nos pontos de ônibus dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo. E, muitas vezes, quando a condução passava nos dois últimos pontos da etapa IV do bairro, trabalhadores, estudantes e demais passageiros ficavam sem embarcar, pois de tão cheio o ônibus não parava nos pontos.

Mas, o pior estava por vir, e veio quando o representante soube que além daqueles problemas, outro maior estava por vir, já que a etapa VII dos residenciais ia ser inaugurada e a linha 338 (Jardins do Cerrado I - Terminal Conjunto Vera Cruz) que já era ruim passaria a servir mais uma etapa que habitaria mais 10 mil moradores. Rosendo Conceição não aceitou, jogou as cartas sobre a mesa e exigiu a criação de uma nova linha, para atender a etapa VII, com alegação de que com a inauguração de mais uma etapa do barro, 25 mil moradores usariam o ônibus. A Companhia Metropolitana de Transporte Coletivo (CMTC) atendeu ao pedido e criou a linha 344 (Jardins do Cerrado VII - Terminal Conjunto Vera Cruz), porém, ela continuaria indo somente até o Terminal do Conjunto Vera Cruz, como a linha 338. Começava aí uma das maiores batalhas do representante do bairro, instigando o povo a lutar pela melhoria e extensão da linha de ônibus até o Terminal Padre Pelágio, que realmente era o mais viável e, hoje se sabe disso, de tal modo que, posteriormente, a própria CMTC mais do que admitiu, uma vez que meses depois de sua total extensão repetiu o feito com o Residencial Monte Pascoal e com o Eldorado Parque Oeste, sem sequer necessitar da luta dos moradores desses dois bairros nas proximidades da minicidade.

A população da minicidade estava correta, todos os dias via a olho nu a insistência da CMTC em obrigar o desembarque de idosos e cadeirantes no Terminal do Vera Cruz e dois minutos depois, o mesmo ônibus que descarregava o povo, mudava o itinerário e seguia para o Terminal Padre Pelágio. Isso era um tapa na cara da população da minicidade.

Tinha prosseguimento aí a cobrança para a extensão e, depois de mais de dezesseis reuniões do povo com a CMTC, o povo, encabeçado pelo representante da minicidade, foi obrigado a protestar pacificamente, bloqueando a passagem dos ônibus que entravam no bairro, com o apoio da imprensa televisiva, radiodifusão, escrita e da Polícia Militar.

Após isso, o transporte coletivo do bairro sofreu algumas melhorias, as duas linhas foram, gradualmente, sendo estendidas até ao Terminal Padre Pelágio, mas as cobranças continuavam e a CMTC se negava a estender as linhas por completo e, para não estender a linha de ônibus direta e diuturnamente para o Terminal do Padre Pelágio, a CMTC alegava duas desculpas: uma de que somente a extensão do Eixo Anhanguera resolveria o problema, embora ainda não tivesse colocado esse projeto em prática, e outra de que não havia espaço no Terminal Padre Pelágio para a colocação de mais pontos de embarque e desembarque. Era uma inverdade, pois se nos horários de picos que o tráfego era bem mais intenso já fora colocado, isso só vinha provar que nos horários de entre picos também poderia ser posto, já que nesses horários o trânsito era bem menor. O que a CMTC parecia era não querer saber que após ter colocado o nosso ônibus direto para o Terminal Padre Pelágio, nos horários de picos, o Terminal do Vera Cruz passou a respirar. Bem, o fato é que as cobranças continuaram e, daquele modo, com ajuda de grande parte da população dos residenciais, a linha 338 e 344 passaram a ir para o Terminal Padre Pelágio e 80% da frota de veículos passaram a ser adaptada, amenizando o sofrimento dos cadeirantes.

Apesar das mudanças significativas que atingiu não somente a minicidade, mas toda a região, como já vimos, até hoje não melhorou o suficiente ainda para atender toda a demanda da população. A luta continua porque a minicidade comporta muitos idosos e cadeirantes, por isso, nenhum argumento vindo por parte da CMTC, ou qual for a parte, no sentido de não promover melhorias não justifica, dado o número de usuários do sistema.

Na nossa próxima etapa da série abordaremos um assunto também muito importante, veremos como anda a questão do asfalto na minicidade. Aguardem!


 Gilson Vasco

Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido - Parte (VIII)




No artigo anterior desta série vimos que os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo necessitam de mais atenção também em relação à segurança pública, porém, conforme prometido, na parte VII, abordaremos nesta parte VIII assuntos relacionados à criação, atuação, conquistas e frustrações da Associação dos Moradores da minicidade. E para começarmos já vamos perceber, de cara, que a Associação dos Moradores dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo carrega consigo uma história peculiar, ora, pois, desde o início do processo para a composição das chapas até a realização das eleições, no dia 25 de abril de 2010, seis meses após os primeiros moradores chegarem para habitar a minicidade, os acontecimentos foram ímpares, isto é, nunca antes, pelo menos que se tivesse conhecimento, houve uma eleição desse porte para a escolha de um presidente de bairro no Brasil.

Os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, bairros populares criados e entregues pela prefeitura de Goiânia e pela União, contendo 2.378 casas populares, beneficiando uma média de 15 mil pessoas, através do programa A Casa da Gente, foi palco de uma das mais bonitas disputas eleitorais para a criação da Associação dos Moradores. O Instituto de Desenvolvimento Tecnológico e Humano – (IDTECH) teve papel fundamental em todo o processo, uma vez que era da incumbência do IDTECH organizar o empreendimento habitacional.

De início, foram, segundo o IDETCH, 18 chapas inscritas, reduzidas para 11 e, por fim, restaram 07 chapas para a disputa eleitoral. Foi um processo eleitoral muito transparente, isso graças ao profissionalismo de pessoas que estavam à frente do Instituto de Desenvolvimento Tecnológico e Humano (IDTECH), que não mediram esforços em prol do exercício da democracia. À comunidade foi concedido o direito de participar de várias reuniões em pontos estratégicos do bairro para que toda a sociedade tivesse a chance de conhecer os candidatos, bem como suas propostas, já os candidatos tiveram também a oportunidade de debater suas propostas, ao vivo, transmitido pela UCG-TV e DM-TV, um dia anterior às eleições que ocorreram na antiga Escola Municipal Jornalista Jaime Câmara, atual Escola Municipal Joaquim Câmara Filho, com uma participação massiva da comunidade dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo. Pouco tempo depois de abertas as urnas para a contagem dos votos, toda a comunidade conheceu o primeiro presidente da Associação dos Moradores dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, Rosendo Conceição, o qual reforçou com o povo o seu compromisso de campanha: Trabalhar incansavelmente na tentativa de estender a linha do ônibus até ao Terminal Padre Pelágio, lutar pela pavimentação de todas as etapas da minicidade e tentar transformar o Residencial Jardim do Cerrado e Mundo Novo num dos melhores bairros de Goiânia, para se viver.

Assim que assumiu o pleito um dos seus primeiros trabalhos foi fazer uma parceria com representantes da OI, Telefonia Fixa, para a instalação de telefones fixos e públicos (orelhões) que ainda não existia no bairro. Apesar de ter gradualmente conquistado significativos resultados na questão do transporte coletivo ao conseguir estender a linha do ônibus até o Terminal Padre Pelágio, melhorar a frota e reduzir os intervalos, até hoje continua insistindo no aumento da quantidade de ônibus, na redução do intervalo entre um e outro, mas isso contarei detalhadamente em uma parte destina à problemática do transporte coletivo no bairro, porque agora preciso dizer que desde então, Rosendo Conceição tem ido à busca de solucionar muitos problemas: está sempre solicitando das autoridades competentes a realização de aterramentos das erosões, enquanto o tão esperado asfalto não chega; sempre requer patrolamentos das vias esburacadas; cobra constantemente a roçagem completa do matagal que, às vezes, cobre toda a minicidade, oferecendo riscos à população; tem colaborado diretamente com a campanha contra a dengue, vacinação de animais domésticos, aferição de pressão arterial e teste de glicemia; solicitou a construção e o constante reparo de diversos campos de chão batido para os esportistas treinar futebol; etc.

Para reduzir um pouco a monotonia e o sofrimento dos moradores, principalmente das crianças e dos adolescentes, a Associação dos Moradores tem buscado várias parcerias com algumas instituições, a fim de realizar alguns eventos dentro e fora do bairro. Um dos maiores exemplos é a participação da garotada no Circuito Caixa de Maratoninha, mas deixo isso para contar numa outra oportunidade, ainda nesta série de artigos. 

Na nossa próxima etapa da série abordaremos a questão do transporte coletivo que atende a minicidade. Veremos como se deram as lutas e as conquistas para melhorar o transporte coletivo na minicidade. Aguardem!


Gilson Vasco

Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido - Parte (VII)


No artigo anterior desta série vimos que os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo necessitam de mais atenção também em relação à cultura, ao esporte e ao lazer, porém, conforme prometido, nesta parte VII, abordaremos a problemática da violência na qual a minicidade foi sendo inserida e hoje se encontra submergida ao descaso, ao medo, devido também à falta de segurança pública, um dever do Estado, direito assegurado aos cidadãos pela Constituição Cidadã de 1988.

De 2009 até 2012 pode se dizer que a minicidade era em Goiânia um dos bairros mais calmos para se viver. A partir do início de 2013, o bairro convive com altíssimos índices de violência ao ponto de assustar os moradores. Não que nos primeiros anos não tivesse registrado desavenças, mas quase três anos depois de sua inauguração, os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo se sucumbiram à violência intensa.

Mas nada disso veio gratuito. Entender o motivo do crescimento da violência é muito simples. Quando em 12 de fevereiro de 2010 que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou à minicidade para inaugurá-la ele já reclamava da falta de estrutura no conjunto habitacional, dizendo que as moradias precisavam receber nos próximos meses muros e que a minicidade precisava urgentemente de equipamentos esportivos, asfalto e mais escolas. Lembrou que era necessária a realização de um senso para saber quantos jovens do conjunto habitacional estavam na adolescência para que o poder público ficasse sabendo a quantia exata de jovens moradores no local e que esses jovens pudessem ter a oportunidade de fazer cursos oferecidos pelo governo. Ele mesmo taxou os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo que eu chamo de minicidade de “cidade nova”, e disse que a cidade nova necessitava de estudo, lazer e cultura para que, em hipótese alguma, o poder público abandonasse a minicidade, pois, segundo o presidente ainda, caso isso viesse a acontecer, os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo correriam o risco de virar uma favela, num intervalo de menos de dez anos, a contar daquela data.

Reclamando da falta de áreas esportivas na minicidade, o presidente ainda alertou dizendo que o governo federal tem que junto com os governos estadual e municipal construir quadras de futebol e de basquete para a meninada, uma vez que se não ocupar o tempo das crianças e adolescentes com coisas saudáveis, como o esporte eles se ocuparão com a droga, com a prostituição e com a violência.

Pois é, nada disso que foi falado se cumpriu. Compreendem agora, o motivo do aumento da violência na minicidade? Crianças e adolescentes desassistidos pelos pais, pela sociedade e pelo estado são um prato cheio para bandidos. Somado a isso, ainda há a omissão do Estado que não oferece uma segurança de qualidade, Nem mesmo após encasáveis reivindicações da sociedade. Ora, além do encaminhamento de diversos ofícios dirigidos aos órgãos competentes, o representante legal da minicidade tem ido pessoalmente, várias vezes, solicitar do Estado a construção de colégios estaduais, já que o bairro possui três áreas para esse fim; pedir a construção da rede de esgoto, já que todos os domicílios ainda se servem das fossas sépticas; solicitar também a construção de um ginásio de esportes para as crianças e adolescentes do bairro se manterem ocupados com os esportes e, principalmente, requerer a construção e manutenção de um posto policial, uma vez que o bairro possui cerca de 30 mil moradores e a segurança, como estamos dizendo e constatando, ainda é muito precária.

Passados quase seis anos de existência da minicidade, lamentavelmente, nenhuma das solicitações feitas pelo povo foi atendida, nem mesmo o pedido de construção de pelo menos um posto policial nos residenciais. A carta-resposta informava que a minicidade e região estava sendo assistida pela 18ª DDP/GYN, atendendo satisfatoriamente a demanda dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, e que o Estado não dispunha de estrutura física e humana, pelo menos naqueles momentos, para atender a solicitação (seis anos? E nossos impostos?).

Realmente, caso as autoridades públicas não olharem para a minicidade, a fala do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva se cumprirá como se cumpre uma profecia. Muitos meninos que no fim de 2009 para o início de 2010 tinha uma faixa etária de 9 ou 10 anos e não tiveram uma atenção da família, abandonados pelo poder público, alguns já perderam a vida no trafico, outros se transformaram em bandidos mirins e outros ainda estão a mercê da própria sorte, ou mesmo da falta dela.

A única esperança que ainda resta ao povo é saber que apesar da crescente violência, isso não é um luxo exclusivo da minicidade, pois o bairro, felizmente, ainda não é um dos mais violentos da Capital. Mas pode ficar, caso medidas concretas a curto e a longo prazos não forem tomadas.

Na nossa próxima etapa da série abordaremos um assunto também muito importante, veremos como se deu a criação da Associação dos Moradores, bem como sua atuação, conquistas e frustrações. Aguardem!


Gilson Vasco

Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido - Parte (V)I



Conforme promessa em artigo anterior, nesta sexta parte desta série de artigos relacionados aos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, vamos abordar a questão da cultura, do esporte e do lazer.

A minicidade foi povoada sem nenhum lugar para as crianças e adolescentes praticar esporte e lazer. Logo após criação da Associação dos Moradores, tema que, futuramente bordaremos com maior precisão, o presidente eleito, ciente da necessidade solicitou da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer e Secretaria Municipal de Obras, pelo menos a terraplanagem de algumas áreas em todas as etapas do bairro. A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) cedeu algumas traves e, assim, foi feito alguns campos de chão batido, onde por muito tempo, praticou o futebol, porém, atualmente, os campos se encontram abandonados. Por falta de incentivo e dessas áreas na minicidade, hábitos sadios como a prática de esportes, em suas diversas modalidades; o prazer em se fazer uma caminhada matutina ou sob o sol do entardecer não existem ainda no bairro, isto é, por falta de uma política voltada para a criação de áreas de cultura, esporte e lazer, não existe nenhuma opção cultural com intuito de integrar a sociedade às mais diversas formas e modalidades de lazer.

As escolas municipais das etapas I e VI possuem quadra de esporte, porém, restrita aos alunos matriculados e frequentando-as, mas para o restante da sociedade dos residenciais, na tangente destes três tópicos, faltam tudo. Com isso, centenas de crianças e adolescentes que deviam estar se ocupando desses afazeres sadios, voltam-se ao mundo da marginalidade por desocupação.

Assim como disse da saúde, não se deve culpar somente o município pelas desgraças sociais, no Brasil tudo, tudo caminha a passos de tartaruga preguiçosa. Digo isso também porque há muito o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), destinou uma Praça dos Esportes e da Cultura (PEC), depois chamado de Centro das Artes e dos Esportes Unificados (CEU) para a minicidade que, depois de pronto, integrará atividades e serviços culturais, práticas esportivas e de lazer, formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços socioassistenciais, políticas de prevenção à violência, ao uso de drogas e inclusão digital. Porém, já devia está pronta e servindo a comunidade desde 2012, mas devido ao atraso burocrático ele ainda se encontra em fase de construção. De todo mal, nem tudo é ruim, ainda bem que ficará pronto ainda neste ano para a inauguração e entrega à comunidade, segundo previsão da construtora responsável pela obra.

O Centro das Artes e dos Esportes Unificados (CEU), apesar de ser construído com recursos do Governo Federal pertence ao município e foi dado a este a competência de geri-lo. Até o presente momento, não há nenhum resquício de nenhum equipamento do Estado, no sentido de promover a prática da cultura do esporte e do lazer para os moradores da minicidade.

É necessário muito investimento na minicidade para que os idosos possam ter melhor qualidade de vida e as crianças e adolescentes se mantenham ocupados para que não se percam no mundo marginalizado, como de fato vem ocorrendo. É preciso acabar com essa característica que existe de ponta a ponta no Brasil: deixar de investir em saúde para investir em doenças! Investir em doença? Claro que não me equivoquei, pois equipar hospitais, admitir médicos e treinar funcionários da área é realmente preciso, porém, não é tudo. Ora, se antes disso não se investe em cultura, esporte e lazer, de certo modo é investir em doença. Agora contribuir o máximo na cultura e na prática do esporte e do lazer, isso sim, é investir em saúde e economizar gastos, uma vez que a ciência tem provado, na prática, que o indivíduo que participa ativamente da sociedade, possuem mecanismos e condições para buscar a cultura, o esporte e o lazer possui uma melhor qualidade de vida, e, quando há qualidade de vida, não há hospitais lotados. Mas para está inserido na sociedade, ser culto e buscar o lazer há a necessidade da dinâmica, espaço que ofereça variadas opções e é exatamente aí que surge a obrigação de ter gestores interessados e compromissados com a saúde pública e com o povo.

No nosso próximo artigo desta série: Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido, abordaremos a problemática da violência na qual a minicidade foi sendo inserida e hoje se encontra submergida ao descaso, ao medo, devido também à falta de segurança pública.

 Gilson Vasco

Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido - Parte (V)

 

No nosso artigo antecedente a este vimos sobre como anda a saúde ou a falta dela nos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, ou na minicidade, se preferir. Constatamos que o problema é nuclear e se ramifica Brasil adentro. Percebemos que não podemos julgar um município, sem antes saber o que acontece no resto do País, graças às ramificações das dificuldades em gerir. Comprovamos a decadência da saúde na ingerência governamental brasileira e soubemos que o Sistema Único de Saúde (SUS) já surgiu com muitos problemas que depois se alastrou com o passar do tempo, respingando também nos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo. Agora, neste artigo, é chegado o momento de ver como anda a Assistência Social, como dever do Estado, em nosso bairro. Pois bem, assim que a minicidade passou a ficar bem povoada, o que antes era chamada de Casa Social, mantida por um instituto contratado pelo poder público para organizar a entrega das casas na minicidade cedeu lugar para a implantação de um Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) que nada mais é que uma unidade pública da política de assistência social, de base municipal, geralmente localizado em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social como a minicidade.

No caso específico do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) instalado, a princípio, na etapa I da minicidade, apenas duas casinhas do programa A Casa da Gente/Minha Casa Minha Vida de quarenta metros quadrados eram usadas para fazer todo o atendimento de proteção social às famílias e aos indivíduos em risco de vulnerabilidade social que procuravam apoio, além de manter, por algum tempo, o grupo dos idosos e o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) para crianças e adolescentes entre 06 e 17 anos, também ofereciam alguns cursos de capacitação Professional.

Instalado em abril de 2011e, após alguns anos em funcionamento, de uma hora para outra, precisamente no início de janeiro de 2015, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da minicidade foi transferido para outro local, em outra etapa do barro, etapa VII, com a alegação de que a devolução das duas casinhas era preciso e necessário, já que enquanto o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) estava instalado nas unidades populares, duas famílias permaneciam necessitando de moradias. Realmente, milhares de famílias ainda continuam necessitando de moradias, é verdade, mas a mudança repentina de endereço, da etapa I para a etapa VII, do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), pareceu um tanto quanto precipitada, uma vez que o atual prédio ocupado pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), antigo Centro Comunitário, já se encontrava todo deteriorado, quebrado e com ares de abandono e sequer passou por reforma antes de ser ocupado, ou seja, depois de quase quatro anos instalado em duas casas do programa A Casa da Gente, isto é, desde 24 de abril de 2011, na etapa I do bairro, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), foi mudado às pressas para a etapa VII, se instalando onde antes funcionava o Centro Comunitário.

Em janeiro do ano em curso, uma reunião foi feita pela equipe do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) para informar beneficiários e comunidade sobre a mudança de endereço do órgão, o que não evitou que a notícia pegasse todos os funcionários e comunidade de surpresa! Durante a reunião, disseram que a Secretaria Municipal de Habitação (SMHAB), através do Ministério Público estava requerendo as duas moradias onde funcionava o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) com o intuito de repasse para duas famílias sem-teto. Por conta disso, as casas foram devolvidas. O que dificultou em muito o atendimento ao público em geral, tanto das crianças e adolescentes quanto dos idosos e beneficiários antes atendidos pelos diversos programas. Com a devolução das duas casas, a proposta da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) era disponibilizar uma van e/ou um micro ônibus para realizar o transporte, tanto das crianças assistidas pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), através do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo (SCVF), quanto dos idosos, bem como da comunidade em geral que residem nas demais etapas e necessitem ser assistida também pelo Bolsa Família, assistentes sociais e psicólogos, etc. porém, os beneficiários estão sendo obrigados a caminhar, às vezes, até mais de quatro quilômetros para resolver problemas relacionados ao atendimento. Isso fica ainda pior quando se sabe que grande parte da população da minicidade se forma por idosos, crianças e portadores de necessidades especiais.

No momento, o extinto Centro Comunitário, agora Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) se encontra muito danificado: portas quebradas, parque infantil destruído, tenda removida, paredes esburacadas e telas de proteção arrancadas, etc. De modo que, apesar de a equipe de manutenção da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) se esforçar para adequar o espaço com as mínimas condições de uso e atendimento ao público, o local continua extremamente precário, quase sem nenhuma condição de uso. A van e/ou micro-ônibus que foi prometido para transportar as crianças e adolescentes do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo (SCVF), apesar de, às vezes, não vir, está sendo cotidianamente disponibilizada, porém, muitas crianças e adolescentes que eram assistidos pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), estão perambulando pelas ruas do bairro ou confinadas nos interiores das casas dos pais, nos períodos que não estão nas escolas, mas não se pode culpar o órgão, pois muitos pais não interessam em matriculá-los, embora seja  feito a buscativa. Com isso, na verdade, não se pode dizer que no bairro não há assistência social, porém, muito mais pessoas poderiam estar sendo acompanhadas e assistidas caso existisse mais seriedade e compromisso do poder público em relação à valorização humana.

Na sexta parte desta série de artigos Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido, iremos abordar a questão da cultura, esporte e lazer. Veremos que não há na minicidade nenhum equipamento público do Estado para manter as crianças e adolescentes ocupados. Aguardem!



Gilson Vasco

Residenciais Jardins do Cerrado, um bairro periférico esquecido - Parte (IV)


Apesar de ter recebido seus primeiros moradores no dia 1º de outubro de 2009, os Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, foram oficialmente inaugurados pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva somente no dia 12 de fevereiro de 2010, quando ele reclamou da deficiência na infraestrutura da minicidade, uma vez que, segundo o presidente, as moradias precisavam receber muros nos próximos meses, a contar daquela data, e a minicidade, por si só, precisava de equipamentos esportivos, asfalto e mais escolas. Mas ainda continua precisando de tudo isso e mais um pouco. Na época da inauguração, o bairro também possuía um pequeno Posto de Saúde da Família (PSF), inaugurado posteriormente pelo então prefeito Íris Rezende.

Dois anos mais tarde, precisamente em 15 de maio de 2012, mais um posto de saúde, uma Unidade de Atenção Básica de Saúde da Família (UABSF) foi inaugurada na etapa VI, agora pelo prefeito Paulo Garcia, com aptidão para atender cerca de 1800 famílias que já habitavam a etapa VII da minicidade. Os 700 metros quadrados de área construída foram divididos entre consultórios, auditório para reuniões, farmácia, sala de vacina e sala de observação para urgências. A estrutura física do local tem capacidade para atendimento de três equipes completas simultaneamente, incluindo saúde bucal, porém, apesar da infraestrutura do equipamento, assim como em todo o Brasil, o atendimento, ou mesmo a falta dele, não tem contribuído muito com a população da minicidade, o que coloca em risco, a saúde dos moradores, cotidianamente.

No Posto de Saúde da Família (PSF) da etapa IV da minicidade, por exemplo, o atendimento é feito a partir de um sistema de rodízio, como se quem fosse adoecer tivesse que agendar sua enfermidade, isto é, se num dado dia em que o profissional da saúde estiver ali para atender pacientes da etapa III, por exemplo, ninguém da etapa II poderá ficar doente, pois não será atendido.

Não se trata de colocar a culpa em cima de um gestor público ou de outro, tampouco isentá-los, ora, muitas vezes, certas coisas que acontecem nas unidades, seja de saúde, educação ou em qualquer outra repartição pública, as autoridades maiores nem chegam, a saber, pois são camufladas com pele de silêncio por muitos servidores dos baixos escalões.

O problema é nuclear e se ramifica Brasil adentro. Está mesmo na ingerência governamental brasileira e não é de hoje. O Sistema Único de Saúde (SUS) já surgiu com uma escala problemática e sua precariedade continua se alastrando com o passar do tempo, ou seja, em qualquer lugar do Brasil a saúde é uma incógnita. Ou não?

Não se pode colocar a culpa na falta de liberação dos recursos, pois somente para o ano de 2014 foram orçados, segundo o Portal de Transparência da Prefeitura de Goiânia, R$ 1.612.161.000,00, para serem aplicados na saúde municipal em Goiânia.

Mais especificamente no caso da minicidade, o problema se acentua porque a massa de necessitados usuários do sistema é muito grande em relação ao número de profissionais nas unidades de saúde, de modo que moradores de diversas etapas da minicidade ficam, às vezes, até três meses sem atendimento médico local.

Por conta disso, muitos moradores da minicidade quando necessitam de maiores cuidados médicos, buscam as unidades de outros bairros mais próximos, como Centro de Assistencia Integral a Saúde (CAIS), Centro Integrado de Assistência Municipal a Saúde (CIAMS) e hospitais. Neste caso, os mais frequentados pelos moradores da minicidade são o do Bairro Goiá, Cândida de Morais e Finsocial, além dos diversos hospitais do estado, espalhados na Grande Goiânia.

No nosso próximo artigo vamos falar sobre como anda a Assistência Social em nosso bairro já que ela é uma política pública, direito do cidadão que dela necessitar e um dever do Estado. Aguardem!

Gilson Vasco