Nesta parte
XII da série Residenciais Jardins do Cerrado,
um bairro periférico esquecido vamos conhecer um pouco do que venha a ser o Projeto
Meninos do Cerrado, uma instituição que surgiu em 2010, dentro da Associação
dos Moradores dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo com o objetivo
principal de assistir crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade
social, tentando evitar que eles acabem mergulhados no mundo do crime, sugados
pelo ralo da exclusão social e ejetados para o submundo que, a todo o momento,
os banem da existência.
Para reforçar
a extrema necessidade da criação do projeto é bom relembrarmos a origem dos
Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo, popularmente chamado de “Jardins
do Cerrado” ou “Minicidade”, nomenclaturas que já vimos adotando e vamos continuar
usando a partir deste momento também.
Sabe-se que
por volta de 2009 surgiu um programa governamental com o objetivo de reduzir o
déficit habitacional brasileiro, tido como um dos problemas mais crônicos
do Brasil. O intento do governo era atingir, em tempo recorde, a marca de
dois milhões de casas e apartamentos populares construídos. Não há como negar,
em menos de uma década, o programa atendeu milhares de famílias que
não tinha sua casa própria, porém, o programa que ao invés de ter transformado
o sonho da casa própria em realidade para muitas famílias brasileiras, se
transformou num cruel pesadelo, impossibilitando as famílias contempladas
usufruir de sua moradia dignamente. Lamentavelmente, o programa se
consolidou de modo forçado, isto é, mais publicidades e menos desenvolvimento
infraestrutural. O programa nada mais é que um reforço do poder público
para a concretização do modelo periférico de urbanização, por meio da
edificação de extensos conjuntos habitacionais nas regiões periféricas das
metrópoles sem oferecer a infraestrutura básica. Lamentavelmente, os
idealizadores do programa fingem não saber que, afastados dos centros urbanos, os
moradores desses complexos habitacionais espalhados por todo o Brasil são
obrigados a conviver com a insuficiência ou inexistência de
transporte público de qualidade, equipamento escolar, posto de saúde, área
de lazer e saneamento básico, refletindo diretamente
no sofrer social. O desígnio de favorecer famílias carentes na obtenção de sua
moradia própria é um cumprimento constitucional, mas a edificação de complexos
habitacionais em espaços muito distantes da urbe é uma ação excludente e
preconceituosa em relação às classes de pouco ou nenhum poder aquisitivo.
Vítima desse modelo excludente são também os Jardins do Cerrado, complexo
habitacional localizado na região oeste da Capital goiana que possui ao
todo quase 3 mil casas e aproximadamente 2 mil apartamentos habitados,
totalizando um aglomerado de cerca de 30 mil moradores, formando uma
minicidade, uma cidade dentro de um gigante metropolitano.
É
nos Jardins do Cerrado, entregue ao progresso incerto que também
milhares de seres humanos carentes e necessitados vivem estertorados. Fazem
parte dessa gente crianças e adolescentes, a perder de vista, muitas das quais
convivem com o descaso, com o abandono institucional, com a violência, com a
fome e com as mais diversas formas de exploração do dia a dia.
O projeto não
pretende, em hipótese alguma, ser taxado de “o salvador dos Meninos do
Cerrado”, mas, temos tentado o máximo possível, amenizar o sofrimento dos
pequenos. E fazemos isso sem doar muito de nós, pois, como a nuvem singela que
ao estilar partículas de alvura alimentam oceanos, são com pequenos gestos
sinceros que fazemos a alegria dos Meninos do Cerrado. Eles são dois, quatro,
sete, dezenas, centenas, milhares, multidões... São, às vezes, inocentes,
carentes, temerosos, brincalhões, amigáveis, sofridos, queridos, odiados...
Muitos, órfãos de pais, paz, pão, educação, cultura, aconchego, afeto e
ternura.
Sejam através
da prática esportiva, em campos de chão batido, festas comemorativas,
conduzindo-os às maratonas fora da minicidade, visitas às instituições,
teatros, cinemas, museus, planetário, clubes de lazer e etc. sejam com pequenos
gestos, temos nos aventurados a cumprir a nossa função de partilha na missão de
sermos seres humanos.
De todos os
incentivos dados às crianças assistidas pelo Projeto Meninos do Cerrado, o
Circuito Caixa de Maratoninha, maior circuito de corrida infantil do País,
evento esportivo que cresce a cada dia, promovido anualmente pela Caixa
Econômica Federal que acontece nas principais cidades do Brasil e em Goiânia, penso
ser o que mais tem chamado a atenção da garotada.
Todos os
anos, desde 2010, meninos e meninas dos Jardins do Cerrado marcam presença no
Circuito Caixa de Maratoninha, incentivados pelo Projeto Meninos do Cerrado.
As crianças e
os adolescentes, principalmente provindos de comunidades carentes, devem ser o
principal alvo das políticas públicas e de projetos que se propõem auxiliá-los.
É necessário que continuemos pensando num futuro melhor para eles, pois
alcançarão se começarmos a investir desde agora. Há crianças carentes no bairro
que, às vezes, se aventuram a atravessar a Capital para fazer algum tipo de
curso que devia ser oferecido dentro do bairro e manter-se ocupado, mas outras,
não tendo nada para fazer no período pós-escolar, ficam camuflados em suas casas
ou perambulando pelas ruas e isso é muito ruim! O bairro não possui, sequer,
uma escolinha de futebol e foi justamente para tentar amenizar um pouco esse
problema que o Projeto Meninos do Cerrado passou a colaborar com alguns
voluntários que se arriscam, mesmo sem nenhuma condição financeira, a dar aulas
de futebol para as crianças e adolescentes da minicidade.
Nos Jardins
do Cerrado, vez por outra, ainda se instalam circos e os Meninos do Cerrado
ficam na expectativa até a hora dos espetáculos. Não raro, quando há circo
instalado no bairro, o Projeto Meninos do Cerrado cosegue levar muitas crianças
e adolescentes para se divertirem com as apresentações circenses.
Dentro das
possíveis possibilidades, o Projeto Meninos do Cerrado também colabora com os
trabalhos voluntários da academia Dojo Magno Kan, pensada e administrada pelo
professor faixa-preta em caratê, Divino Magno, que, há muito tempo vem
trabalhando com crianças carentes das regiões periféricas da Grande Goiânia e,
após, prestar grandes trabalhos voluntários para crianças em situação de
vulnerabilidade social em outros bairros, há cerca de três anos, percebendo o
contingente de crianças e adolescentes sem nenhuma atividade esportiva,
cultural ou artística, o mestre em caratê começou a atender crianças e
adolescentes dos Residenciais Jardins do Cerrado e Mundo Novo. O projeto
Meninos do Cerrado apoia os trabalhos da academia angariando recursos para o
custeio de algumas inscrições em campeonatos ou mesmo com doações de materiais
usados nas aulas e treinos, pois o projeto também acredita que o caratê é
também uma forma de as crianças e adolescentes dos Jardins do Cerrado terem a
mesma oportunidade que outras de outras regiões. Precisamos olhar o caratê como
uma arte que os tornem mais capazes.
O Projeto
Meninos do Cerrado tem proporcionado a várias crianças dos Jardins do Cerrado a
visitar o Planetário. Cada vez que um grupo de Meninos do Cerrado visita o
local para uma sessão “intergaláctica” é uma festa de animação. Manter os
Meninos do Cerrado em contato direto com a cultura, obtendo cada vez mais
conhecimento também é um dos objetos do Projeto.
Desde o
início da fundação do bairro e da criação do Projeto Meninos do Cerrado é
costume, todo ano, um parque de diversão se instalar nas imediações da principal
avenida que corta os Jardins do Cerrado ao meio. Vez por outra, os
idealizadores do Projeto Meninos do Cerrado conseguem fechar parceria para que
os dirigentes do parque possam atender os Meninos do Cerrado por um preço
abaixo do custo normal, ou mesmo de modo gratuito.
O Projeto
Meninos do Cerrado tem realizado passeios em alguns clubes de Goiânia com
intuito de levar alguns Meninos do Cerrado para esse momento prazeroso, tomando
banhos nas piscinas, tomando um sol e se descontraindo um pouco.
Os Meninos do
Cerrado são seres comuns, como eles, outros são encontrados em todos os cantos
do mundo. Geralmente de famílias carentes que dependem da ajuda de outros para
sobreviverem. Muitos são vítimas do desajuste social, outros, apesar de serem
de famílias carentes conseguem levar uma vida mais ou menos confortável, mas
uma coisa eles tem em comum: vontade de crescer e mudar o futuro da sua
linhagem. São crianças, pré-adolescentes e adolescentes, muitos dos quais,
encontram-se em situação de vulnerabilidade social e que, nessas condições,
estão expostos a diversos riscos como: violência física, psicológica e sexual;
uso e tráfico de drogas lícitas e ilícitas; exploração como mão de obra
infanto-juvenil; má nutrição e diversas doenças. Esses meninos, muitas vezes
pequenos, sobrevivem em quase total ruptura com as necessidades básicas e caso
políticas públicas voltadas para o resgate e inserção social não forem
imediatamente desenvolvidas, muitos deles poderão ter seus futuros
drasticamente comprometidos, podem continuar sendo vítimas das mais diversas e
cruéis formas de exploração.
Gilson
Vasco