Depois de uma breve parada para um
pequeno descanso, nossa viagem é retomada com a visita à Estação Ferroviária de
Goiânia, onde reconstituiremos mentalmente os trilhos do trem. Primeiramente
realizaremos um apanhado geral de como se deu a construção da estação.
Imaginemos, pois, acerca do projeto de urbanização de Goiânia. Percebe-se
facilmente que a estação se insere no conjunto das construções pertencentes à
arte Déco.
Na verdade, as principais construções de
Goiânia, bem como em diversas cidades do mundo, possuem caráter visual, isto é,
os arquitetos e urbanistas carregam consigo a preocupação espacial-visual.
Assim, no caso específico da construção de Goiânia, a cidade foi erguida de
modo que, quem estivesse na Praça Cívica, tinha uma ampla visão do espaço da
Praça do Cruzeiro, do Mercado Central, da Estação Ferroviária etc. Claro que
com a chegada dos inúmeros arranha-céus em Goiânia, o espaço foi perdendo a sua
configuração original. A própria Estação Ferroviária já perdeu algumas
características do tempo da estrada de ferro para se adaptar às novas
necessidades. Daí dizer que ou um patrimônio é totalmente conservado, ou sofre
modificações chegando ao desgaste total com o tempo.
A construção da Estação Ferroviária de
Goiânia, foi dada por um fundo de interesse político e econômico. Não foi para
a época uma obra gigantesca, porém, uma construção de arquitetura ímpar, em
relação às demais, no interior. Percebe-se que a intenção real era trazer para
Goiânia a administração da ferrovia.
Em um estilo Déco, a torre da estação
lembra um arranha-céu parisiense, mas as demais partes configuram o estilo
“moderno”.
O término da construção da Estação
Ferroviária de Goiânia deu-se em 1950, porém, sua inauguração aconteceu em 11
de novembro de 1952.
Durante mais de vinte anos serviu como
estação ferroviária de Goiânia sendo desativada na década de 70. Com a extinção
da Estrada de Ferro Goiás, a locomotiva n.º 11, símbolo da estação, mais
conhecida como Maria Fumaça, foi colocada como exposição na parte externa da
antiga Estação.
O prédio passou por várias reformas; em
1985, por exemplo, foi adaptado para atender as necessidades do Restaurante do
Centro de Cultura e Tradições Goianas, hoje extinto. Em 1987, foi criado o
Centro Estadual de Artesanato de Goiás, que passou a funcionar desde então, no
prédio da estação. A última reforma aconteceu em 1999.
O prédio é tombado pelo Governo do
Estado desde 1998. Por volta de 1984 foi noticiado que a Rede Ferroviária
Federal Sociedade Anônima - RFFSA e a prefeitura de Goiânia haviam fechado um
acordo, em que a prefeitura ficaria com o terreno do pátio ferroviário, de
localização central, no qual seria (e realmente foi) construída uma nova
estação rodoviária; e em troca a ferrovia receberia um terreno bem maior, fora
da cidade, para instalar um pátio maior e mais espaçoso. O pátio, realmente,
foi transferido para a estação de Senador Canedo, a cerca de 20 km da cidade de
Goiânia. Trens de passageiros não chegam ao prédio desde os anos 1980.
Depois de uma criteriosa observação na
parte frontal, dirigiremos para os fundos da Estação Ferroviária numa tentativa
de reconstruir mentalmente os caminhos por onde antes passavam os trilhos.
Interessante que o desembarque e embarque eram feitos pelos fundos! Isso mesmo,
pelos fundos! Claro que já não poderemos ver mais a linha férrea, uma vez que
as sucessivas restaurações sofridas pela Estação Ferroviária obrigaram a
retirada daquele e de outros trechos, já que aquele espaço foi adaptado para
servir a outras atividades, como ensaio de bandas, desfiles e realização de
feiras-livres. Verdade é que os trilhos que vinham das imediações do Parque
Agropecuário de Goiânia passavam pelos fundos da Estação Ferroviária, seguiam
por onde se encontra a atual Câmara dos Vereadores, seguiam por onde existia a
chamada Força Pública (Policia Militar), onde hoje se encontra o Hipermercado
Walt Mart (este construindo já entre 2006 e 2007, também com pequenas
características da Arte Déco, em memória do extinto prédio da Força Pública) e
seguia para Campinas, onde findava a linha férrea.
Se adentrarmos à Estação Ferroviária de
Goiânia, perceberemos o busto em bronze do arquiteto e urbanista Attílio Corrêa
Lima, responsável pelo projeto da construção de Goiânia. No alto do saguão,
praticamente no cume das duas paredes da construção notaremos também dois
gigantescos quadros pintados exclusivamente para ocupar aqueles lugares. Um de
fronte para o outro. Um dos painéis gigantes contrasta com o outro. O edifício
possui na área interna principal, murais de frei Nazareno Confaloni, introdutor
do modernismo em Goiás, pintados em 1953. O espaço interno, dando a impressão
de grandioso, assemelha o saguão de um grande prédio, nos levando ao
entendimento de que o intento do seu idealizador foi realmente demonstrar
grandeza e poder.
Em 2010, quando tivemos a chance de
fazer uma visita detalhada ao prédio, o edifício abrigava a cooperativa dos
artesões de Goiás e a Banda Marcial da Prefeitura de Goiânia (Projeto
Musicalidade). Porém, em 2012, quando novamente estivemos de passagem pelo
local, notamos que o abandono ameaçava o prédio, marco da arquitetura e da
história de Goiânia. Atualmente, a antiga Estação Ferroviária, na Praça do
Trabalhador, está degradada pela ação do tempo, umidade e descaso com o
patrimônio público. Sabe-se que a Secretaria de Cultura quer transformar em
museu o prédio da antiga estação. Mas, não há prazo para a obra sair do papel.
Do lado de fora da Estação Ferroviária,
há a locomotiva, a conhecida Maria Fumaça, fabricada em 1910, pelos alemães,
exposta ali há muito tempo e restaurada há cerca de uma década, em Minas
Gerais.
Faremos mais uma pequena parada e
continuaremos com a nossa viagem sobre os trilhos das velhas ferrovias em nosso
próximo artigo quando visitaremos a estação ferroviária da cidade de Leopoldo
de Bulhões.
Gilson Vasco
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