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Para quem acredita na existência de Deus, há sempre uma luz radiante, ainda que a vida pareça mergulhada em profunda escuridão. Chega um momento que precisamos nos libertar dos grilhões, das amarras e correntes que nos enclausuram num pequeno mundo, sairmos da nossa caverna e irmos de encontro à luz.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Outra visão sobre a Literatura Goiana


Durante todo o percurso da vida do indivíduo humano, infinitas são as experiências pelas quais ele passa. Ainda que fôssemos seres eternos, muitas coisas não chegariam a passar pela nossa minúscula cabecinha, já que possuímos certas limitações. Mesmo depois de nos constituirmos como sujeitos, continuamos adquirindo novas experiências e tentando sermos cada vez mais ousados. Daí, o nosso enorme poder de transformação. Não importa com que dom nascemos ou qual vocação vamos seguir, a criação é um poder versátil e ilimitado, um campo vasto a ser galopado constantemente e o que vem à frente, muitas vezes, parece misterioso demais aos olhos humanos. No campo da literatura, por exemplo, dia a dia, somos surpreendidos e agraciados com obras e autores tão inovadores capazes de nos prender à leitura na primeira linha do seu texto e nos conduzir a mundos nunca dantes imaginados, sem desgrudar os olhos ou desviar o pensamento daquela arte posta nas páginas.

A exemplo desse veículo que nos leva a mundos brilhantes temos também a Literatura Goiana, que nas suas primícias, no século XVIII, Bartolomeu Antônio Cordovil (pseudônimo de Antônio Lopes da Cruz), nos presenteou com o poema Ditirambo e depois com outros escritos; Luís Antônio da Silva e Sousa, colaborador do Meia-Ponte, Matutina Meyapontense; Luís Maria da Silva Pinto, com o Diccionário da Língua Brasileira; Florêncio Antônio da Fonseca Grostom; Joaquim Teotônio Segurado; Antunes da Frota e o marechal Raimundo José da Cunha Matos, também ficaram muito conhecidos pelas suas crônicas.

No século XIX, a Literatura Goiana começava a ser assediada pelo Romantismo que estava em alta nas poesias europeias e nas de outros cantos do Brasil. Na segunda metade do século XIX e início do século XX, Acrísio Gama, Antero Pinto, Félix de Bulhões, Joaquim Bonifácio de Siqueira, entre outros, destacaram-se principalmente pelas suas poesias reverenciando o cerrado e pelo amor à natureza.

Belíssimos escritores como Hugo de Carvalho Ramos, Pedro Gomes, Gercino Monteiro, Ribeiro da Silva e Derval de Castro marcam a prosa realista na Literatura Goiana.

Ainda no século XIX, com o advento do Parnasianismo e do Simbolismo no Brasil, a Literatura Goiana se expande ainda mais com livros de Érico Curado, Hugo de Carvalho Ramos, Vasco dos Reis, Vítor de Carvalho Ramos, Leo Lynce (Cyllenêo de Araújo) e José Lopes Rodrigues.
No início do século seguinte já começa a aparecer os primeiros contistas goianos como  Matias da Gama e Silva, Zeferino de Abreu, Cora Coralina, Gastão de Deus Vítor Rodrigues.

Ontem, livro de versos, de Leo Lynce abre a porta para o Modernismo em Goiás. Logo, vieram João Accióli, José Godoy Garcia, Bernardo Élis, José Décio Filho, Cora Coralina e Demóstenes Cristino.

Na tangente da prosa regionalista goiana são os textos de Bernardo Élis, de Regina Lacerda e de Antônio Geraldo Ramos Jubé que, a princípio, enaltece a Literatura Goiana, sendo Ermos e Gerais e O Tronco, ambos de autoria de Bernardo Élis, as obras mais importantes da prosa regionalista.
Tropas e Boiadas (1917), contos de Hugo de Carvalho Ramos; Ontem (1928), poesia de Leo Lynce; Veranico de Janeiro (1966), contos de Bernardo Élis; Pium, (1949) romance de Eli Brasiliense; Íntima Parábola (1960), poesia de Afonso Félix de Sousa; Jurubatuba (1972), romance de Carmo Bernardes; Via Viagem (1970), romance de Carlos Fernandes Magalhães; Alquimia dos Nós (1979), poesia de Yêda Schmaltz; Rio do Sono (1948), poesia de José Godoy Garcia; Nos Ombros do Cão (1991), romance de Miguel Jorge; A Raiz da Fala (1972), poesia de Gilberto Mendonça Teles; Joana e os Três Pecados (1983), contos de Maria Helena Chein; Aquele Mundo de Vasabarros (1982), romance de José J. Veiga; Poemas dos becos de Goiás e estórias mais (1965), poesia de Cora Coralina; Relações (1981), romance de Heleno Godoy e Elos da Mesma Corrente (1959), romance de Rosarita Fleury são apenas algumas obras-primas, pois se fôssemos citar toda a arte literária goiana, desde seu florescer aos dias atuais, o leitor teria que se programar para passar muito tempo lendo, ouvindo ou vendo o que Goiás guarda no seu baú literário que a cada dia é remontado com novas belezas criadas pela Literatura Goiana.

Parte da falta de expansão e amadurecimento da Literatura Goiana se deve ao fato do gosto pela arte de literar ter sido despertado tardiamente, em relação ao cenário nacional. Outro motivo foi causado pelo isolamento geográfico do Estado, mas claro que temos nomes de grande destaque no cenário Nacional como a saudosíssima Cora Coralina, Hugo de Carvalho Ramos, Bernardo Élis, José J. Veiga e Gilberto Mendonça Teles. 

Na atualidade, a Literatura que vem sendo desenvolvida em Goiás  também possui sua linha artistica. Admito que a Literatura Goiana é um campo mágico a ser explorado ainda, uma cartola à espera do mágico lhe enfiar a mão. Lógico, verdade seja dita, ainda não conseguiu se equiparar a outras literaturas feitas em outros Estados, como a Literatura Baiana, feita por Jorge Amado, Castro Alves, Dias Gomes etc., etc.,  mas está engatinhando e conquistando maior espaço.

Creio que a função que a Literatura Goiana vem cumprindo vai muito mais além do que simplesmente fazer graça. Aliás, entre outras funções da Literatura Goiana, graça é o que não lhe falta. Está perdendo uma grande chance de se maravilhar com belas risadas quem ainda não leu Causos, de Humberto Milhomem, Mexidos e Remexidos, de Lêda Selma ou quem ainda não se deliciou com As netas do Barão, romance de época de Sandra Rosa. Todas elas são obras-primas que, como outras que ainda teremos a oportunidade de ler, estão inseridas na quarta Coleção Goiania em Prosa e Verso lançada recentemente pela Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Cultura.

Muitos leitores quando vêem Humberto Milhomem, Heleno Godoy, Miguel Jorge, Eurico Barbosa, Sandra Rosa, Lêda Selma, Aidenor Aires, Leidianne Alves, Cida Almeida, Márcia De Conti e tantos outros autores goianos fazendo parte de uma coleção como essa, colocam em cheque, ao ponto de fazer cair por terra qualquer comentário avesso à função que cumpre esse projeto tão ousado de realizar o maior lançamento de livros já visto antes. Certificam de que a história da Literatura Goiana realmente precisa continuar, de modo que na próxima edição da coleção o número seja bem maior.

Assim como a Literatura Goiana vem se mostrando para o mundo, o Diário da Manhã também tem firmemente cumprido sua função jornalística e social: informando, abrindo espaço para todos e divulgando a nossa cultura goiana para o planeta.



Gilson Vasco
Escritor



Aumento do ano letivo


Garantia da permanência na escola?

A página 5, do caderno Opinião Pública, do Diário da Manhã de quinta-feira, 20 de outubro, presenteou nós leitores com a opinião de Rusembergue Barbosa, acerca do “Direito do aluno à permanência na escola”.  Segundo o autor da opinião, foi apresentado na “Câmara Municipal de Goiânia um projeto de lei que visa assegurar a permanência do aluno na escola”.

Concordo plenamente com o parlamentar quando entende que “colide com os postulados constitucionais básicos e, em especial, o direito à educação de qualidade e a proteção da infância e da juventude, os alunos serem encaminhados para suas casas, quando há a falta de professores”.

Muitos, assim como eu, não têm nenhum resquício de dúvida de que a intenção da apresentação do projeto tenha sido uma condição viável. Porém, muita coisa precisa ser ainda pensada para que o direito à permanência na escola seja realmente um direito garantido aos nossos alunos.

Lamentavelmente, muitos dos Direitos Sociais, como Educação, Saúde, Trabalho, Lazer, Segurança e outros, ditos assegurados pela Constituição Federal, muitas vezes, são negados aos cidadãos, motivados pela falta de planejamento, falta de interesse de lideres, descompromissados com o seu real papel perante a sociedade, pela má distribuição dos recursos arrecadados pela União ou mesmo evaporados via corrupção.

Eu também concordo piamente que “compete ao Estado desenvolver medidas efetivas para o cumprimento do dever de garantir a permanência de crianças e adolescentes na escola”, pois é somente através da Educação que se forma uma nação composta por cidadãos conscientes do seu papel social.

Receba a sincera gratidão deste humilde professor, nobre parlamentar, por demonstrar-se preocupado com essa causa, lendo a sua opinião, fez me recordar de uma frase que ouvi de um comentarista, certa vez: “Se cada cidadão brasileiro acompanhasse os fatos políticos, como atentam para os acontecimentos esportivos, a nossa política não teria se transformado nessa anarquia que vivemos hoje”.

Reconheço e respeito a sua ideia de criar mais um projeto de lei, o qual já foi apresentado à Câmara Municipal, porém não se sabe ao certo qual rumo a proposta vai tomar, a seguir. Afinal, não faz tanto tempo que outro parlamentar apresentou uma proposta em outra Casa (e foi aprovada, embora nunca fora cumprida), “obrigando” todas as Agências Bancárias a instalarem sanitários nos seus interiores e, ainda nesta semana, presenciei um senhor, a ponto de fazer suas necessidades fisiológicas (evacuativas) nas roupas, por está adentrado numa agência bancária da Capital, que assim como quase todas as outras parecem ignorar a Lei, talvez por não sofrer nenhum tipo de penalidade.

De nada adiantará o “aumento do ano letivo das escolas”, tampouco a garantia da “permanência do aluno” nela se o direito à educação não for cumprido como manda a Constituição Federal. Não creio que seja plausível a criação de mais emendas, projetos, propostas de Leis se essas tomarem rumos incertos (espero não ser o caso dessa apresentada à Câmara Municipal). Benéfico seria o cumprimento dessas já existentes, antes da elaboração de novas.

Na teoria, a Constituição Federal garante o acesso gratuito e obrigatório à Educação de qualidade, mas o que vemos na prática, em parte, é uma realidade estarrecedora.

Na tangente do direito do acesso gratuito e obrigatório à Educação de boa qualidade, muitas vezes, o Estado é omisso, uma vez que para uma boa formação educacional, Educação e Cultura devem está atrelados um ao outro. Isto, de fato não está acontecendo, pois muitas são as barreiras enfrentadas pelos alunos de sua casa à tentativa da aquisição diária da Educação. Eis algumas: a falta de uma política que assegura o aluno frequentar a unidade escolar mais próxima do seu recinto, evitando os transtornos vividos por ele durante o percurso; a não existência de um transporte gratuito e de qualidade; ausência de dinamismo no processo de aquisição da Educação, isto é, o aluno não tem um incentivo para frequentar outros centros culturais como teatro, cinema, enfim, as diversas manifestações culturais, as quais contribuem para uma melhor formação educacional; a falta de incentivo ao mestre-educador, formador de todas as outras profissões existentes. Este devia, no mínimo, ser bem-instruído, bem-preparado e bem-remunerado.

Não me resta dúvida, é preciso repensar o modelo de Educação que queremos oferecer para nossos alunos. Essa tarefa não compete somente ao Estado, é necessário que a família não deixe a cargo do mestre, a parte que lhe é cabível. Digo isso porque o que temos presenciado nos últimos tempos são pais e responsáveis atribuindo ao professor a tarefa que devia ser aplicada ao aprendiz em casa. Claro que a escola também deve participar dessa formação, mas isso será mais proveitoso se feito com a participação da família.

Contudo, não é somente “a permanência do aluno na escola” que ditará os rumos para uma melhor formação da criança e do adolescente. Finalmente, “a permanência do aluno na escola” a princípio, poderá ser garantida não com o aumento da carga horária, sacrificando mestres e aprendizes, mas priorizando uma Educação de qualidade, aumentando o quadro de funcionários inquestionavelmente capacitados para exercer tal tarefa e melhorando a estrutura física e didática escolar. Verdade que isso não depende de um único parlamentar. É preciso engajar toda a sociedade para essa conquista.


Gilson Vasco
Escritor