De todas as espécies existentes e conhecidas neste
mundo, na opinião deste humilde colunista, o ser humano, talvez, seja a espécie
que mais se subdivide dentro do mesmo grupo tribal, dito de outro modo, e aí já não é mais texto
meu e sim de Samuel Butler, “o Homem é o único animal que pode permanecer, em
termos amigáveis, ao lado das vítimas que pretende engolir, antes de
engoli-las.” Existem os seres humanos bons, os ruins; os honestos, os falsos;
os brincalhões, os mal-humorados e muitos outros, mas de todas as subdivisões,
duas são as piores: a dos preguiçosos, porque são oportunistas, covardes, falseadores,
egocêntricos, canalhas e aproveitadores; e a dos mal-agradecidos, porque os que
se inserem nessa categoria sempre cospe no prato que come e, por muitas vezes, foi
naquele prato que o indivíduo saciou sua fome. Nem os mentirosos, nem os mal-agradecidos
são capazes de enxergar no outro uma virtude, uma vez que estes não honra nem a
si mesmo.
Já presenciei indivíduo dessas duas espécies a se
tornar amigo do seu pior inimigo. Não por amolecimento no coração, mas pensando
no proveito financeiro que ele poderia tirar da situação. Já presenciei, de
maneira vergonhosa, elemento dessasespécies, depois de viver uma vida no pecado,
seguir uma doutrina, não por ter se tornado cristão, mas porque ali ganharia o
pão, já que a preguiça o condenava a viver através de doações de um e de outro
para seu sustento e da família.
Alexander Pope, poeta inglês disse um dia que: “Aquele
que diz uma mentira não sabe a tarefa que assumiu, porque está obrigado a
inventar vinte vezes mais para sustentar a certeza da primeira.” Daí a
necessidade de se policiar todo o tempo para não irmos contra nossos próprios
ideais, até porque como já foi dito numa canção: “Quando a verdade chega, a
mentira some, tem bom caráter o homem que não se corrompe”.
Falando ainda de espécies multifacetadas, poderíamos
classificá-las novamente em duas: uma preocupada apenas com seu próprio umbigo,
bolso e bem-estar que chega a ser tão hipócrita ao ponto de se satisfazer com a
desgraça do seu semelhante e, para tanto, chega ao ponto de contribuir para isso,
de maneira direta; e outra, politizada para defender interesses coletivos ao
ponto de dedicar uma vida ao próximo. A primeira espécie habitua a saciar sua
fome no prato da segunda e depois cuspir no prato, mas pior que cuspir no prato
que comeu é ter que voltar a comer no mesmo prato!
Gilson Vasco
Escritor