Desde pequeno já
ouviam as pessoas dizerem que há a primeira vez para tudo. Quando se é
pequenino não se tem muita noção do mundo que nos cerca. Mesmo assim, não
demorou tanto tempo para a compreensão, afinal, os dias passam muito velozes.
Fui aos poucos crescendo... De repente, sem ao menos que alguém percebesse, me
vi indo sozinho à escola, cortando os cabelos e, em seguida, fazenda a barba! E
o legal disso tudo é que tudo aquilo estava acontecendo comigo pela primeira
vez. Até hoje ainda me lembro da primeira vez que briguei. Claro, existem
aquelas discussões banais que se resolvem com pouco diálogo. Essas acontecem
frequentemente na vida de qualquer um. Mas eu estou falando de socos e
pontapés. Era uma tarde estressante, lá pelas quatro horas. Saí de casa em
direção a uma caixa de coleta dos correios que ficava numa avenida longa e
movimentada para colocar umas cartas. Fui rápido, muito rápido mesmo, pois o
carteiro já estava quase passando e eu queria que minhas correspondências
viajassem ainda àquele dia. Então, antes de chegar à avenida, quando estava
numa rua estreita, avistei umas pessoas sentadas numas cadeiras de balanço, em
frente a uma casa, cujos portões estavam escancarados. De repente, um dos
moradores daquela residência saiu para a rua a toda velocidade e pulou em mim!
Assustado e sem saber o que realmente estava acontecendo, tirei meu corpo de
banda, com a intenção involuntária de deslocar o suposto inimigo, o que de fato
aconteceu. Mas, em seguida, quando olhei para trás vi ele pronto para atacar,
só então percebi que o negócio era para valer, e, que se eu não batesse,
apanharia. Aquela velha expressão da minha mãe de que “quando um não quer dois
não brigam” caiu por terra. Foi aí que preparei: fechei a minha mão direita,
quando ele novamente avançou em mim, dei lhe uma paulada, minha mão, ajudada
pela raiva, pegou de cheio em cima da sua orelha que o derrubou! Logo, ele se
levantou, e, outra vez, veio em minha direção... Nisso, seu superior tentava
lhe conter, mas não sei porque ele insistia em me pegar... Fiquei trêmulo de
medo e fui levado pelo impulso a nocauteá-lo. As mulheres que estavam sentadas
gritavam sem nada poder fazer. Creio que elas chegaram a apanhar algumas
vassouras para me defender ou para me surrar, mas ainda não sei. Tudo aconteceu
muito rápido. Dei outro soco na cabeça dele, o suficiente para a sua decisão.
Ele se levantou, olhou para meus olhos brilhosos como os dele e saiu...
Minhas roupas
ficaram imundas, mesmo assim segui para a avenida e coloquei as cartas na caixa
de coleta dos correios. Por sorte o carteiro ainda não havia passado naquele
dia. De volta, encontrei um dos moradores daquela estância, que sorria com
disfarce e me perguntou se eu havia sido ferido. Sem nenhuma graça falei à
verdade: Não! Chegado em casa contei o fato para a minha família que de início
não quis acreditar, até eu que havia sofrido a ação ainda não tinha acreditado,
tampouco entendi direito o que foi aquilo, parece ter sido sonho, mas os
vestígios em meus vestuários, semblante e no corpo mostravam a verdade.
Hoje, porém, fico
imaginando que eu, talvez, não precisasse ter surrado aquele grandalhão. Mas
ele foi treinado para isso. Era um segurança da casa. Quem sabe se eu não lhe
tivesse vencido, não estaria aqui contando esse acontecimento. Poderia ter
morrido! Mas o que me deixa perplexo mesmo é de saber que a minha primeira
briga, e, espero que também seja a última, tenha sido com um cão!
Gilson
Vasco
Escritor