Concordo plenamente com os linguistas quando eles dizem que
quem faz a língua são os falantes e não a gramática, como muitos pensam. Não se
pode hostilizar um falante simplesmente pelo fato de ele ao usar vocábulos
“gramaticalmente corretos” principalmente se este for desprovido das regras da
linguagem culta. Mas indivíduos instruídos devem, além de compreender os
vocábulos daqueles menos instruídos, gozar de bons termos linguísticos. Caso
isso não seja feito e o intelectual (habituamos a denominar todas as pessoas
públicas de intelectuais) pratica uma ação ou profere palavras inconvenientes
dizemos que este cometeu uma mancada, deu uma rata ou perpetrou uma gafe.
Fico inquieto e chego até a achar inadmissível quando vejo
ou ouço um indivíduo “esclarecido” dizer que alguém está correndo risco de
vida, com a intenção de explicar que fulano poderá vir a morrer. Daí ser isso o
cúmulo da gafe. Ninguém que está vivo, ainda que em situação crítica, com a
saúde comprometida poderá correr risco de vida, corre sim, risco de morte. Para
correr risco de vida esse alguém teria que está morto e sujeito à ressurreição.
Outro dia, presenciei um cidadão do alto escalão da justiça declarar à imprensa
que certo indivíduo tinha sido alvo de uma bala perdida, por está em hora
errada em lugar errado! Como pode um ser pós-graduado, um doutor, cometer,
duplamente, uma gafe desse nível?!
Primeiro, cidadãos de bem devem, todo o tempo, usufruir de
intensa liberdade, se são livres para ir onde quiserem não podem estarem em
lugar errado, em momento algum. O indivíduo foi vítima de uma bala porque o
elemento que a disparou era quem estava em lugar errado, em hora errada, uma
vez que lugar de bandido não é livremente nas ruas ameaçando, prejudicando,
colocando em risco a vida de inocentes e transgredindo as leis a toda hora,
todavia, lugar de bandido e atrás das grades e não à solta cometendo infrações.
Segundo, dizer que alguém foi alvo de uma bala perdida não
é um termo linguisticamente correto para alguém que se diz culto. Quisera eu
que todas as balas disparadas contra alguém fossem realmente perdidas e que
ninguém jamais as achasse, pois assim nenhum cidadão se feriria com balas.
Balas perdidas não causam danos, o que fere são balas achadas
involuntariamente, por cidadãos de bem, vítimas de disparos realizados por
infratores, pela policia e, muitas vezes, incidentalmente por qualquer um
cidadão.
Gilson Vasco
Escritor
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