Fim do preconceito racial?
A lei brasileira de número 10.639, de 9
de janeiro de 2003, estabeleceu que, a partir daquele ano, o dia 20 de novembro
passasse a ser uma data para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, uma
vez que foi neste dia, no ano de 1695, que Zumbi, líder do Quilombo dos
Palmares, depois de lutar pela cultura e pela liberdade, morreu em combate,
defendendo seu povo e sua comunidade. Mas o Dia da Consciência Negra já vinha
sendo celebrado desde a década de 1960, embora só tenha ampliado seus eventos
nos últimos anos. O Dia da Consciência Negra é uma data para se lembrar a
resistência do negro à escravidão de forma geral, desde a vinda dos primeiros
africanos para o Brasil, em 1594, e é também dedicado à reflexão sobre a
inserção do negro na sociedade brasileira.
Geralmente, na semana em que se comemora
o Dia Nacional da Consciência Negra, entidades como o Movimento Negro, o maior
do gênero no país, organizam manifestações, palestras e eventos educativos,
tendo como principal alvo, as crianças negras, com intuito de evitar o
desenvolvimento da inferiorização perante a sociedade. Temas como inserção do
negro no mercado de trabalho, cotas universitárias, se há discriminação por
parte da polícia, identificação de etnias, moda e beleza negra, etc. também são
colocados em pauta e debatidos pela comunidade negra.
Não há dúvida de que a criação desta
data foi muito importante, pois, além de servir como um momento de
conscientização sobre a importância da cultura e do povo africano na formação
da cultura nacional serve para a reflexão sobre a colaboração dos negros
africanos, durante nossa história, nos aspectos políticos, sociais,
gastronômicos e religiosos de nosso país.
A homenagem a Zumbi também foi mais do
que justa, pois este personagem histórico representa a batalha de todos os
negros que fizeram a história através de lutas pela justiça social e pelo fim
do preconceito racial contra a escravidão, no período do Brasil Colonial.
Embora, desde o início, os negros sempre
resistiram e lutaram contra a opressão e injustiças, oficialmente, a escravidão
só teve fim em 1888. Mas nem com a oficialização do fim da escravatura, os
negros ficaram livres do preconceito dos brancos, perante a sua raça. De modo
que até os dias de hoje muitos negros ainda sofrem várias formas de preconceito,
inclusive o preconceito racial. Alguém conhece um super-herói negro dessas
histórias infantis que fascinam as crianças? Se existir é muito novo ainda,
pois o que se sabe é que há uma propagação dos personagens históricos de cor
branca, mas a verdade é que a história do Brasil não foi construída somente
pelos europeus e seus descendentes, porém a valorização foi dada aos
imperadores, navegadores, bandeirantes, líderes militares entre outros. Zumbi
dos Palmares é o nosso primeiro herói nacional negro.
Em todo o mundo, homens como Luther
King, Nelson Mandela, Albert Luthuli, José do Patrocínio e tantos outros já
disseram que, a cor não é ou pelo menos não devia ser, um estorvo para a
convivência igualitária entre os homens. Realmente, a união, a paz e respeito
mútuo são o que devem prevalecer entre os homens, independente da classe social
e da origem racial, ainda mais no nosso país, onde a miscigenação é a marca do
nosso povo. Precisamos intensificar a luta pela inserção do negro na sociedade
brasileira.
Como se não bastasse o olhar desconfiado
de parte da polícia, do branco e de outras organizações para o negro,
lamentavelmente, muitas vezes, o preconceito racial se inicia dentro da nossa
própria casa, dentro do nosso próprio país, principalmente por aqueles
indivíduos de maior poder aquisitivo. Muitos negros brasileiros que conquistam
a mídia deveriam usá-la de modo a contribuir com a diminuição de qualquer forma
de preconceito perante a sua raça, mas preferem compactuar com o feito ou mesmo
ignorá-lo. O preconceito racial está diretamente ligado ao preconceito de
classes. Alguém conhece alguma personalidade brasileira, de cor negra, de alto
poder aquisitivo ou que esteja na televisão e nas páginas dos jornais casada
com negro? Talvez exista, mas é raridade. Os famosíssimos jogadores de futebol,
por exemplo, desfilam por aí exibindo sua parceira que geralmente não é negra.
Claro que não devemos exigir que eles busquem para parceiras necessariamente
mulheres negras, assim como tais, mas mais do que meramente coincidência essas
manifestações parecem mesmo uma verdadeira prática do preconceito racial contra
a sua própria raça, como se já não bastasse a manifestação do branco contra a
cor negra.
Gilson Vasco
Escritor
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