Entre outros direitos assegurados pela
Constituição Federal, Leis Estaduais, Leis Municipais e Estatutos, os
deficientes físicos, idosos, gestantes e adultos acompanhados de crianças de
colo têm preferência garantida nos assentos dos ônibus que integram todas as
linhas que operam no transporte coletivo de Goiânia. Como demonstração de
respeito e garantia ao direito os veículos são dotados de cadeiras reservadas
com distintivos próprios ou convencionais. Certo? Errado!
Respeitoso seria se as Leis, meramente
postas no papel, passassem à prática, mas o que vemos no dia a dia é totalmente
ao contrário daquilo que deveria acontecer realmente. Ao que nos parece, grande
parte dos nossos líderes estão mais preocupados em nos mostrar que temos Leis a
fazer com que elas depois de promulgadas sejam executadas, cumpridas. Não
obstante, equívocos já são cometidos no ato da sua elaboração. Ora, reservar um
percentual de assentos, geralmente de cor vermelha ou amarela, sempre diferente
da cor das demais poltronas, indicando que aqueles assentos estão reservados às
determinadas classes, não seria o mesmo que isentar os usuários dos demais
assentos da obrigação de se retirar dali e ceder aquele lugar para um idoso
que, por ventura, não mais encontrou um desses espaços reservados vazios, ou
independentemente da situação? Categoricamente sim.
Não culpemos somente aqueles que não
estão preocupados com o devido cumprimento das Leis, embora isso também seja
uma falta de respeito com os portadores de necessidades especiais. Não
necessita ser um assíduo usuário do transporte coletivo goianiense para
testemunhar a grande falta de respeito por parte da massa goianiense para com
os nossos idosos, gestantes e demais usuários especiais. Basta se aventurar uma
única vez numa dessas viagens coletivas para presenciar a rotineira falta de
humanismo dos usuários para com seus semelhantes. Desde a ignorância de ocupar
os locais reservados, mesmo com a presença de seus legítimos usuários ao lado,
em pé, cansados; a incultura de preferir simular um sono, a ceder o local a
alguém mais necessitado do assento, naquele momento; os ecoantes gritos e
conversas desnecessárias, mais para piadinhas de seres demonstrativamente
incultos, os hits enjoativos de celulares e de micro-caixas
acústicas, porém com sons altíssimos, sem sequer fazer uso do fone de ouvido,
como quem alugasse os ouvidos dos demais passageiros; o esfrega-esfrega, às
vezes, obrigatórios (já que os veículos do transporte coletivo goianiense se
assemelham a latas de sardinhas, onde pouco pode movimentar-se), outrora
intencional dos usuários (o chamado tirar uma casquinha); a caoticidade do
trânsito e outros contribuintes para o aumento do stress da massa
trabalhadora, estudantil e de todos aqueles que são obrigados a se servirem
desse meio de transporte animalesco.
A conclusão que se tira de tudo isso é
que ambas as partes demonstram um alto grau de incompetência, incultura e
desrespeito. Quem faz as Leis, simplesmente as fazem; aquele que devia zelar pelo
cumprimento legal finge não vê o caos; o empresário está mais preocupado em
faturar a doar e, finalmente, a massa usuária ignora o senso de humildade e
cavalheirismo. O resultado é a continuação doentia de uma sociedade que, a
passos retrógrados, caminha para lugar nenhum em busca do nada. Nessa nave do
descaso, o coitado da tripulação é o portador de necessidades especiais que
além de ficar tímido na hora de poder fazer valer seus direitos, acaba sendo
alvo de chacotas de marmanjos que estão sempre prontos para tirar uma com a
cara do ser especial, como expressões do tipo: “Você já sentou demais, agora é
minha vez.”; “Enche a barriga e agora quer ter preferência.”; “Quem disse que
eu tenho culpa de você ter nascido assim?”.
A que ponto chegamos, hein?! Para onde
vamos?!
Gilson Vasco
escritor
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