O
mistério do riacho Tijucuçu é um conto infanto-juvenil
bairrista, “obra intrigante, instigante,
e audaciosa. Simbiose perfeita entre a ficção e a vida de um povo. Reflexo dos
sonhos, da coragem e do amor do seu autor pelas letras e pela sua terra”,
como disse, certa vez Diones Machado, escritor, engenheiro e conterrâneo do
autor.
Ou como revelou Bruna Eugênia, autora do
romance Entre Linhas...:
Conheci Gilson Vasco através de seus
trabalhos publicados na coluna de artigos do site baianada.com e ficava admirada
com tamanha qualidade de escrita. Li algumas prévias de um trabalho histórico
que ele desenvolveu sobre nosso “mágico pedaço de chão”, ouvi falar muito bem de sua obra “A fuga para o bosque enlevado” e tinha certeza
que aquele brilhante autor estava só começando. Certa vez recebi seu contato
informando que estava fazendo análises em meus textos. Confesso que nesse dia
eu consegui detestar esse escritor, afinal, que diabos uma criatura que
escrevia tão bem
queria com meus trabalhos?! Mas foi com essa bendita crítica (Fragmentos da
Literatura Wanderleense) que me tornei uma verdadeira fã dos escritos desse baiano que, desafiou as
dificuldades, quebrou barreiras e ultrapassou fronteiras em busca de seus
sonhos.
Agora Gilson Vasco nos presenteia com
mais uma preciosidade, uma narrativa incrível, um misto de cultura popular com
estudos históricos e científicos. Em “O Mistério do riacho Tijucuçu”, esse autor bairrista
mostra o amadurecimento
de seu trabalho provando que a Literatura é a arte que abarca todas as
riquezas dos
povos. Nessa obra
ele transforma os
“causos canabravenses” em uma narrativa de vida real, em que as crendices são explicações para as verdades e
mostra ao leitor o que
nem os
maiores estudos sociológicos têm sido capazes de abordar: as razões das
manifestações culturais daquele povo bonito, daquele povo sofrido da terra que
sangra alegria.
E disseram bem. Disseram porque O mistério do riacho Tijucuçu realmente
é isso: a história do menino que desapareceu após ser excomungado
pela mãe.
No contexto comum da literatura, conta a
lenda que depois de ter sido amaldiçoado e ganhado o caminho do inferno,
juntamente com uma vaca, vez por outra, a criatura aparecia de maneira amistosa
implorando pelo perdão daquela que o amaldiçoou.
Porém, contadores de causos mais
elusivos, da região onde o fato teria supostamente acontecido, garantem que a
história é verdadeira e chegam a ornamentar detalhes do mito, temperando com
pitadas de superstições para as aparições do garotinho. Atribuem à madrinha os
arcabouços rítmicos — rituais — que deveriam ser realizados para que a criança aparecesse.
Outros floreiam ainda mais o fato
garantindo ter escutado da própria mãe do garoto e de parentes
próximos, a versão da história. Dizem que o garoto só retornaria com a morte
da genitora. Relatam que no dia do enterro da mãe do garotinho, toda
a cidade interiorana compareceu ao velório para saber se o menino apareceria.
Alimentam a crença de que, coincidentemente ou não, nos momentos finais do
enterro, aparecera uma enorme cobra no túmulo da falecida! Todos disseram que
era o menino amaldiçoado que apareceu para ver a mãe morta, em forma de
uma jararaca.
Para o autor wanderleense, que atualmente
mora na capital goiana — e, na época das pesquisas para a obra, esteve visitando a cidade para colher as informações
com maior precisão —, o sumiço da criança pode ser atribuído a uma forte
enxurrada, uma vez que relatos de tradicionais wanderleenses mapeiam fortes
chuvas no dia do suposto acontecimento. Desse modo, o garoto pode ter caído e
levado pela enxurrada na travessia do riacho.
Por outro lado, Gilson Vasco tem dito
em suas palestras e entrevistas:
“Quando escrevo, escrevo com a alma,
deixo falar o coração e dou vazão aos meus sentimentos, sem perder a razão, mas
diante de uma obra dessa natureza, cabem apenas os leitores decidirem se os
fatos nela contidos são realmente verdadeiros. Entendo que uma obra literária
somente pertence ao seu real criador enquanto ela está camuflada em uma gaveta.
Depois que a obra é levada ao conhecimento do público, seu criador — antes
escritor e agora autor — não mais é dono dela, mas sim, um mero apreciador,
isto é, o autor pode ser dono do seu texto somente enquanto o escreve e ainda
não o tornou público, depois da sua publicidade ele pertence aos leitores, que
lhe atribuem variadas leituras e constroem inúmeras imagens a partir daquela
apreciação”.
Aliás, em O mistério do riacho Tijucuçu, cada uma das personagens foi milimetricamente
pensada pelo autor, em respeito à comunidade, cujos causos fazem parte. “Dona Anazus”,
por exemplo, que colaborara com o parto da criança fora mencionada pelos contadores
de causos como uma pessoa que montada no lombo de um touro sempre fazia o
trajeto de sua cidade à outra, na qual possuía uma fazenda. Muitos relatos
narrados por contadores de causos ao autor garantem tê-la conhecido e até
conversado com ela, que na verdade se chamava Suzana.
Grande parte dos moradores da cidade
atribui ao autor um ato de coragem e bravura em trazer à tona — transformando
em conto — uma história de tamanha versatilidade.
Em 2011, ano que foi lançado, O mistério do riacho Tijucuçu foi vencedor de um concurso literário na categoria contos, promovido
pela Secretaria Municipal da Cultura de Goiânia, em parceria com a Pontifícia
Universidade Católica de Goiás e passara a integrar a coleção Goiânia em
Prosa e Verso. Desde então, outras
obras do autor também foram premiadas. Gilson Vasco disse que deixou de participar
do concurso nos últimos anos porque o regulamento veta a idoneidade na escola
da capa, mas não descarta a possibilidade de vez por outra, voltar a participar.
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