A chamada Gramática Descritiva
destina-se a descrever ou explicar as línguas tais como elas são faladas.
Explicita as regras que realmente são utilizadas pelos falantes. Descreve como
se dá o funcionamento da língua e seus usos; é o conjunto de regras sobre o
funcionamento de uma língua nos mais diversos aspectos ou níveis. A principal
diferença em relação à gramática normativa, é que, na primeira, há a
preocupação em ditar regras que muitas vezes só são observadas na escrita,
enquanto que a Gramática Descritiva explicita as regras que os falantes sabem e
que usam no dia a dia.
Sob a ótica de
Silva (1999, p. 15-16), a chamada gramática
descritiva tem por
objetivo descrever as observações linguísticas atestadas entre os falantes de
uma determinada língua. Sem prescrever normas ou definir padrões em termos de
julgamento de correto/incorreto, busca-se documentar uma língua tal como ela se
manifesta no momento da descrição. Nessa perspectiva, a gramática
descritiva tem uma visão despida de qualquer preconceito linguístico. O seu
campo de atuação é mais amplo, visto que contempla toda a diversidade, não se
restringindo à abordagem da variante padrão.
A gramática descritiva ou sincrônica (do grego syn-
'reunião', chrónos 'tempo') é o estudo do mecanismo pelo
qual uma dada língua funciona, num dado momento, como meio
de comunicação entre os seus falantes, e da análise
da estrutura, ou configuração formal, que nesse momento a caracteriza. A gramática descritiva propõe-se a
descrever as regras da língua falada, as quais independem do que a gramática
normativa prescreve
como "correto". Segundo
Possenti, "é a que orienta, o trabalho dos linguistas cuja preocupação é descrever e/ou explicar as línguas tais como elas são
faladas." Assim,
diferentemente da gramática normativa, na gramática descritiva, as regras
derivam do uso da língua.
A partir da constatação de que a gramática
normativa não era
capaz de dar conta do uso real da língua por seus falantes, surgiram outras
concepções e, consequentemente, outras acepções de gramática. TRAVAGLIA cita três tipos de gramática:
normativa (também chamada tradicional), descritiva e internalizada ou implícita.
A gramática descritiva está ligada a uma determinada comunidade linguística e reúne as formas gramaticais aceitas
por estas comunidades. Como a língua sofre mudanças, frequentemente muito do
que é prescrito na gramática normativa já não é mais usado pelos falantes de
uma língua. A gramática descritiva não tem o objetivo de apontar erros, mas sim
identificar todas as formas de expressão existentes e verificar quando e por quem
são produzidas.
Enquanto a gramática normativa considera como erro o uso de formas
diferentes da norma culta da língua (tornada oficial), na
perspectiva da gramática descritiva, o erro gramatical não existe, ou, explicando melhor: ao
adotar um critério social, não linguístico, de correção, a
gramática descritiva considera erradas apenas as formas ou estruturas
gramaticais não presentes regularmente nas variedades linguísticas
reconhecidas pelos falantes de uma língua.
Enfim,
a “gramática descritiva” objetiva estudar a língua em suas diferentes
manifestações, rompendo com qualquer tipo de estigma.
Referências:
NASCIMENTO,
Milton; TISO, Wagner. (Adaptação musical). Cuitelinho. In: A arte de Milton
Nascimento. Rio de Janeiro, Polygram, 1988.
SILVA, Taís
Cristófaro. Fonética e Fonologia do português: roteiro de estudos e guia de
exercícios. 2.ed. São Paulo: Contexto, 1999.
MATTOSO CAMARA JR, Joaquim Estrutura da Língua Portuguesa. Petrópolis: Vozes,
2004; p.11.
Gramáticas - Normativa, descritiva e internalizada, por
Alfredina Nery.
POSSENTI, S. Por
que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das Letras,
1996, apud "Crenças de professores de Português sobre o papel da gramática no
ensino de Língua Portuguesa", por Fabio Madeira. Linguagem
& Ensino, Vol. 8, n°. 2, 2005 (17-38)
TRAVAGLIA,
L.C. Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no
1º e 2º graus. São Paulo: Cortez,2002, apud Fabio
Madeira, op.cit..
Gilson Vasco
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